sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A MACONHA É UMA DROGA!

Pesquisa americana confirma que o uso da Cannabis é ainda mais nocivo do que se supunha. O consumo crônico na idade adulta leva a alterações cerebrais severas ...
Com 224 milhões de usuários em todo o mundo, 1 milhão no Brasil, a maconha é a substância ilícita mais consumida. Ao contrário do que acontece com outras drogas, a maioria dos que fumam a erva tem convicção de que ela não faz mal algum. Atualmente há uma enorme onda de tolerância com os cigarros de Cannabis - como se tal comportamento não fosse considerado crime pelas leis brasileiras. A fama de inofensiva vem, em grande parte, de uma particularidade da própria maconha. As consequências das tragadas costumam aparecer a longo prazo, como perda da memória, dificuldade de fazer escolhas, diminuição do poder de crítica e aumento na impulsividade. Pela primeira vez um estudo esmiuçou os mecanismos cerebrais associados a esses danos. Coordenado pela neurocientista Francesca Fílbey, pesquisadora da Faculdade de Comportamento e Ciências do Cérebro da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, o trabalho comprovou que os prejuízos decorrentes do consumo crônico de maconha (quatro vezes por semana, ao longo de oito anos) não só alteram a arquitetura do cérebro como também comprometem o seu funcionamento. A droga reduz a densidade do tecido cerebral e aumenta a velocidade entre as sinapses (comunicação entre os neurônios). Apesar de mais ligeiras, as conexões desse tipo não têm a qualidade das sinapses de um cérebro saudável. Esse desequilíbrio acontece sobretudo no córtex orbitofrontal, comprometendo a tomada de decisões e a motivação. O álcool produz um efeito semelhante, mas não com tamanha intensidade. Diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo: "Seria necessário consumir pelo menos três doses diárias de destilado, durante pelo menos quinze anos, para chegar ao tamanho do estrago provocado pela maconha". 

O desajuste estrutural no cérebro constatado entre os usuários crônicos da erva pode ser a chave para entender a estreita relação entre o consumo de maconha e o aumento no risco de doenças psiquiátricas - um mecanismo ainda não totalmente desvendado pela medicina.
Entre os consumidores crônicos, a depressão e o transtorno bipolar são duas vezes mais frequentes do que entre quem não usa maconha. No caso da esquizofrenia, a incidência é três vezes e meia superior. Todos esses distúrbios têm em sua origem um desequilíbrio nas conexões neurais.
 "A droga faz com que as sinapses que deveriam se fortalecer se tornem débeis e as que deveriam desaparecer ganhem força", diz o psiquiatra Jaime Hallak, da Universidade de São Paulo, càmpus de Ribeirão Preto. A pesquisa, portanto, reforçou a ideia de que os danos ocorrem também em idades mais avançadas - ou seja, quando as conexões neurais já estão consolidadas.

A ação destrutiva da maconha está associada ao tetraidrocanabinol (THC), um dos 480 compostos da erva. O THC interfere na química cerebral de uma forma extremamente natural. E esse é o grande perigo da maconha. Nem o álcool nem a cocaína, tampouco o devastador crack, têm uma interação cerebral tão rematada. O THC imita a ação de substâncias naturalmente fabricadas pelo organismo. os chamados endocanabinoides, imprescindíveis na comunicado entre os neurônios. A adaptação do THC é tão perfeita que. interrompido seu consumo, o prejuízo permanece por muito mais tempo. Quando consumido na adolescência, fase em que o cérebro está ainda em formação, o malefício é irreversível. Os problemas cerebrais causados pelo álcool e pela cocaína, para se ter uma ideia, cessam dias depois que eles deixam de ser usados. Para piorar, a quantidade de THC nos cigarros de maconha hoje é o dobro em relação aos baseados dos anos 2000.

Os usuários crônicos. avaliados no estudo da Universidade do Texas, representam cerca de 70% dos consumidores de cigarro da Cannabis no mundo. O restante é composto dos que utilizam a droga esporadicamente - no máximo, três vezes por ano, geralmente em circunstâncias específicas, como festas. Ambos os perfis são suscetíveis aos danos da maconha. O usuário contumaz, como se viu, tem sua estrutura cerebral alterada. Aquele que faz uso eventual, a depender da tolerância do organismo e da propensão genética, está sujeito a sofrer estados psicóticos transitórios, como alucinação e paranoia, ataques de pânico e ansiedade. Ou seja, a maconha é sempre uma droga.
Fonte : REVISTA VEJA Edição de 17 de dezembro de 2014


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