Analise
sobre a influencia psíquica de um conto de fada sobre nossa
sociedade
Avatar
– o filme e seu simbolismo
Avatar
conta a trajetória de Jake Sully, um soldado da marinha que aceita o
desafio de ocupar o lugar de seu irmão gêmeo (morto), no programa
Avatar.
O
Ano é 2154 e se passa numa lua que se chama Pandora, que orbita o
planeta Polyphemus (ficção) no sistema de Alpha Centauri; detalhe,
ele é paraplégico.
Em
Pandora os humanos estabeleceram pequena base militar e cientifica
com o intento de obter um valioso minérioUnobtanium,
rica fonte de energia. Como Pandora é um mundo com atmosfera
imprópria para os humanos, foi criado corpos chamados Avatares,
mistura de DNA humano com DNA dos nativos Na’vis, com o objetivo
de, por um lado, amistosamente retirar os nativos de sua área, ou,
por outro lado, se misturar e aprender os costumes dos nativos e
verificar seu ponto fraco, visto que o território dos nativos se
localiza acima da maior reserva do mineral precioso.
Já
no inicio do filme, Avatar mostra a que veio e conta a história da
transcendência da consciência; do processo iniciático ou de
individuação do masculino. Desde quando Jake desperta da hibernação
e fala do sonho, e sobre a liberdade de voar, e diz; “mas sempre
temos que despertar (acordar) para a realidade”.
Avatar
fala do limitado estado de consciência num corpo humano ao
aprendizado de ampliar os limites num novo estado de ser, num novo
corpo, corpo este apropriado para a nova experiência. A imagem de
viagem a terras desconhecidas é um símbolo do processo de
individuação, portanto é aqui que Jake inicia seu processo.
Jake
era irmão gêmeo de um cientista, este sim fazia parte do projeto
Avatar, mas morto, Jake foi convidado a tomar o seu lugar.
Os
gêmeos simbolizam a dualidade e se constituem por vezes numa imagem
análoga a encruzilhada, normalmente na mitologia eles encontram-se
como uma representação do arquétipo da sombra, onde um sempre
possui as características que faltam ao outro.
E
no caso de Jake, por seu irmão já estar morto, bem como por todo o
processo de Jake ser paraplégico e ainda ir realizar a parte de seu
irmão, se deduz que ele já ultrapassou esta encruzilhada do
confronto com sua sombra pessoal. Pois, aleijado ou aleijão nos
mitos sempre são visto como sendo seres de grande sabedoria cujas
deformidade aparecem como sinal de iniciação. Tendo sua imagem
defeituosa vinculada a dos heróis
e
a das pessoas que possuem um destino incomum. Lembrando que essa
característica parece ser o resultado de uma necessidade de
sobrepujar a deformidade física.
Os
ferreiros, assim como os carpinteiros nos mitos, quase sempre
aparecem retratados na imagem de aleijões.
O
filme me lembrou muitas coisas, mas nada de fantasia, só coisas
muito sérias e reais e que acontecem todos os dias, estão
acontecendo agora, na sociedade dos homens…
Apesar
de ser ainda um conto de fadas, é desses que calam fundo na
realidade anímica que sustenta nossas vidas – mesmo que a maioria
não se dê conta, é essa realidade anímica a que sustenta suas
vidas.
O
filme fala muito à contemporaneidade, fala do mito que está nos
rondando mais de próximo e pedindo para ser vivido, para ser
cultuado… fala da volta de Gaia.
Isso
é real e não há nada de fantasioso nessa encruzilhada [ecológica]
que o tempo nos coloca, ou que nós próprios nela nos colocamos –
porque o hoje é sempre fruto do ontem e semente do amanhã…
E
hoje é patente que somos todos convocados a decidir entre um tipo de
vida sustentável, conscientes do ecossistema fechado e limitado que
fazemos parte, ou inconscientes do fato, continuando a agir como se o
planeta Terra fosse infinito e pudéssemos tudo…
Estamos nessa
encruzilhada, e a imagem do momento que vivemos é dramática por si
só sem precisar que a exageremos. Pois as consequências para o
futuro das decisões que estamos tomando agora, são graves ao ponto
de determinar, não qual futuro teremos, mas se teremos futuro…
Dizem
que essa é a última geração de homens que ainda pode decidir que
estilo de vida quer levar, porque a próxima, não terá escolha… E
é bem assim que eu acredito que é e percebo que estamos nesse
limiar…
Eu
lembrei de meu pai que era era kardecista e, ponderado, costumava
repetir uma sabedoria espirita que aprendeu com meu avo: a semeadura
é livre, mas a colheita é obrigatória…
Pois é isso, só
colhemos o que plantamos, essa é a verdade mais crua, seja numa
plantação na roça ou na vida cotidiana.
O
momento histórico que vivemos é então o limiar para o sonho ou o
pesadelo, é desses momentos raros e dicotômicos que são marcos
históricos e assinalam a passagem de um paradigma a outro…
Mas
para onde nós estamos indo? E não se trata de fantasia, Avatar
trata de toda a grave realidade que estamos vivendo e para onde
estamos nos dirigindo…
A
mensagem do filme, para mim.é que precisamos semear amor (inclusive
amor a Gaia). Penso que fala da necessidade de preservação do meio
ambiente, dos nossos valores morais, etc para termos vida em
abundância, vida a se colher e desfrutar no presente com fartura…
Lembrei
de Freud e de Melanie Klein, do Eros, pulsão de vida em Freud, e do
sentimento de gratidão do bebe em Klein: essas forças que do mais
íntimo psiquismo [da alma] do homem o redimem e salvam da
aniquilação…
Claro tambem existe força contrária no binômio
psicanalítico, da pulsão de morte, ou da inveja do seio, do pênis,
do útero, da inveja enfim, a qualquer coisa que tenha ou doe vida.
É
essa inveja da vida que engendra as mortes bestas. É sempre a
maledicência a que assassina, desagrega e diminui a vida… e acaba
com o outro, não para possuí-lo ou ter mais para si, mas para
profanar a vida e retirar do outro o que tem e para que ele fique sem
nada.
A
maledicência que mora no coração do homem, tanto quanto a
caridade, e é sempre uma escolha do homem servir a uma ou outra
senhora.
Eu
acho que é sempre muito emocionante saber que não estamos sozinhos
nesse anseio por vida, que outros se preocupam tanto com essas
questões ao ponto de fazerem delas o motor de suas vidas. E para mim
não há nada mais importante ou grandioso que dedicação a essa
causa. Sempre atenta a essas questões, é o meu modo de servir à
Grande Sabedoria, ou Gaia, ou Ei-we, ou sei lá que nome possa ter
esse espírito, que para mim é o sentimento pulsante das vidas
interligadas. E o filme passa essa mensagem de modo sublime…
Tantos
já serviram a essa causa, anônimos e expoentes, pecadores e santos,
alguns de modo mais inequívoco e corajoso, e outros, como eu, vão
como podem, aos trancos e barrancos mesmo…
Somos
em geral muito imperfeitos e inconscientes, pensando em fazer o bem,
fazemos às vezes o contrário… Muitas vezes nem é por nossa
culpa, é o sistema que nos subverte, usa a nossa força em seu favor
e deturpa a nossa palavra, a nossa ação… porque é da natureza da
morte subverter a vida.
Mas
não vamos esquecer de considerar que são as nossas atitudes dúbias
o que mais alimenta o sistema e o mantém vivo, aliás, sem nós, ele
não existiria…
Fiquei
pensando no paradoxo que é a vida… Frágil como ela só, num
segundo se apaga, basta um golpe, como o que recebeu o irmão do
protagonista e que nós nem chegamos a conhecer: por um nada, um tiro
de alguém que queria apenas os trocados que ele carregava no bolso…
Essa
gratuidade da vida e ao mesmo tempo como ela é perene e difícil de
ser destruída…
É bem uma conta matemática de pulsões
psicanalíticas a ser deduzida: se houvesse mais pulsão de morte do
que de vida, já estaríamos todos mortos… então, enquanto há
vida, há esperança…
A solução é percebermos que estamos
todos juntos no mesmo barco, ou nos afundamos todos ou fazemos juntos
a travessia…
Vivemos
nessa selva, nossas cidades são a lua de Pandora onde mora o povo
Na’vi , com a desvantagem para nós que lá a vida é natural e
bem-vinda. Nós, que nos julgamos metropolitanos e civilizados,
achamos que deixamos para trás a vida desregrada e o perigo de ser
devorado por alguma fera, quando na verdade nos transformamos nós as
feras uns dos outros… Se a gente olhar com cuidado, para as nossas
cidades, vamos ver o quão hostil elas são, é a mesma luta renhida
por espaço e comida da cadeia alimentar onde o mais forte come mais
e melhor, etc. etc.
Assistindo
Avatar me passaram coisas muito sérias pela cabeça : tudo é muito
real e nada romântico, está acontecendo agora em Avatar e em nossa
sociedade….... Avatar é um conto de fadas que nos leva a pensar
holístico sob as coisas, será que seria muito exagerado de minha
parte afirmar que, ou aprendemos a amar tudo o que nos rodeia e a
pensar holisticamente, ou então, estaremos todos fadados à
extinção?
Bibliografia
MILLER DE
PAIVA, L. e outros. Séculos XX e XXI – O que permanece e o que se
transforma (Atualização em psicoterapia e psicossomática. SP.
2000.
ANZIE, D.O
grupo e o inconsciente. Casa do Psicologo. SP. 1993.
BUNNEL, L.
O Anjo Exterminador, apud Kaes op. Cit., p.100
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