domingo, 18 de setembro de 2016

Avatar – o filme e seu simbolismo

Analise sobre a influencia psíquica de um conto de fada sobre nossa sociedade

Avatar – o filme e seu simbolismo

Avatar conta a trajetória de Jake Sully, um soldado da marinha que aceita o desafio de ocupar o lugar de seu irmão gêmeo (morto), no programa Avatar.
O Ano é 2154 e se passa numa lua que se chama Pandora, que orbita o planeta Polyphemus (ficção) no sistema de Alpha Centauri; detalhe, ele é paraplégico.
Em Pandora os humanos estabeleceram pequena base militar e cientifica com o intento de obter um valioso minérioUnobtanium, rica fonte de energia. Como Pandora é um mundo com atmosfera imprópria para os humanos, foi criado corpos chamados Avatares, mistura de DNA humano com DNA dos nativos Na’vis, com o objetivo de, por um lado, amistosamente retirar os nativos de sua área, ou, por outro lado, se misturar e aprender os costumes dos nativos e verificar seu ponto fraco, visto que o território dos nativos se localiza acima da maior reserva do mineral precioso.
Já no inicio do filme, Avatar mostra a que veio e conta a história da transcendência da consciência; do processo iniciático ou de individuação do masculino. Desde quando Jake desperta da hibernação e fala do sonho, e sobre a liberdade de voar, e diz; “mas sempre temos que despertar (acordar) para a realidade”.
Avatar fala do limitado estado de consciência num corpo humano ao aprendizado de ampliar os limites num novo estado de ser, num novo corpo, corpo este apropriado para a nova experiência. A imagem de viagem a terras desconhecidas é um símbolo do processo de individuação, portanto é aqui que Jake inicia seu processo.
Jake era irmão gêmeo de um cientista, este sim fazia parte do projeto Avatar, mas morto, Jake foi convidado a tomar o seu lugar.
Os gêmeos simbolizam a dualidade e se constituem por vezes numa imagem análoga a encruzilhada, normalmente na mitologia eles encontram-se como uma representação do arquétipo da sombra, onde um sempre possui as características que faltam ao outro.
E no caso de Jake, por seu irmão já estar morto, bem como por todo o processo de Jake ser paraplégico e ainda ir realizar a parte de seu irmão, se deduz que ele já ultrapassou esta encruzilhada do confronto com sua sombra pessoal. Pois, aleijado ou aleijão nos mitos sempre são visto como sendo seres de grande sabedoria cujas deformidade aparecem como sinal de iniciação. Tendo sua imagem defeituosa vinculada a dos heróis e a das pessoas que possuem um destino incomum. Lembrando que essa característica parece ser o resultado de uma necessidade de sobrepujar a deformidade física.
Os ferreiros, assim como os carpinteiros nos mitos, quase sempre aparecem retratados na imagem de aleijões.
O filme me lembrou muitas coisas, mas nada de fantasia, só coisas muito sérias e reais e que acontecem todos os dias, estão acontecendo agora, na sociedade dos homens…
Apesar de ser ainda um conto de fadas, é desses que calam fundo na realidade anímica que sustenta nossas vidas – mesmo que a maioria não se dê conta, é essa realidade anímica a que sustenta suas vidas.
O filme fala muito à contemporaneidade, fala do mito que está nos rondando mais de próximo e pedindo para ser vivido, para ser cultuado… fala da volta de Gaia.
Isso é real e não há nada de fantasioso nessa encruzilhada [ecológica] que o tempo nos coloca, ou que nós próprios nela nos colocamos – porque o hoje é sempre fruto do ontem e semente do amanhã…
E hoje é patente que somos todos convocados a decidir entre um tipo de vida sustentável, conscientes do ecossistema fechado e limitado que fazemos parte, ou inconscientes do fato, continuando a agir como se o planeta Terra fosse infinito e pudéssemos tudo…
Estamos nessa encruzilhada, e a imagem do momento que vivemos é dramática por si só sem precisar que a exageremos. Pois as consequências para o futuro das decisões que estamos tomando agora, são graves ao ponto de determinar, não qual futuro teremos, mas se teremos futuro…
Dizem que essa é a última geração de homens que ainda pode decidir que estilo de vida quer levar, porque a próxima, não terá escolha… E é bem assim que eu acredito que é e percebo que estamos nesse limiar…
Eu lembrei de meu pai que era era kardecista e, ponderado, costumava repetir uma sabedoria espirita que aprendeu com meu avo: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória…
Pois é isso, só colhemos o que plantamos, essa é a verdade mais crua, seja numa plantação na roça ou na vida cotidiana.
O momento histórico que vivemos é então o limiar para o sonho ou o pesadelo, é desses momentos raros e dicotômicos que são marcos históricos e assinalam a passagem de um paradigma a outro…
Mas para onde nós estamos indo? E não se trata de fantasia, Avatar trata de toda a grave realidade que estamos vivendo e para onde estamos nos dirigindo…
A mensagem do filme, para mim.é que precisamos semear amor (inclusive amor a Gaia). Penso que fala da necessidade de preservação do meio ambiente, dos nossos valores morais, etc para termos vida em abundância, vida a se colher e desfrutar no presente com fartura…
Lembrei de Freud e de Melanie Klein, do Eros, pulsão de vida em Freud, e do sentimento de gratidão do bebe em Klein: essas forças que do mais íntimo psiquismo [da alma] do homem o redimem e salvam da aniquilação…
Claro tambem existe força contrária no binômio psicanalítico, da pulsão de morte, ou da inveja do seio, do pênis, do útero, da inveja enfim, a qualquer coisa que tenha ou doe vida.
É essa inveja da vida que engendra as mortes bestas. É sempre a maledicência a que assassina, desagrega e diminui a vida… e acaba com o outro, não para possuí-lo ou ter mais para si, mas para profanar a vida e retirar do outro o que tem e para que ele fique sem nada.
A maledicência que mora no coração do homem, tanto quanto a caridade, e é sempre uma escolha do homem servir a uma ou outra senhora.
Eu acho que é sempre muito emocionante saber que não estamos sozinhos nesse anseio por vida, que outros se preocupam tanto com essas questões ao ponto de fazerem delas o motor de suas vidas. E para mim não há nada mais importante ou grandioso que dedicação a essa causa. Sempre atenta a essas questões, é o meu modo de servir à Grande Sabedoria, ou Gaia, ou Ei-we, ou sei lá que nome possa ter esse espírito, que para mim é o sentimento pulsante das vidas interligadas. E o filme passa essa mensagem de modo sublime…
Tantos já serviram a essa causa, anônimos e expoentes, pecadores e santos, alguns de modo mais inequívoco e corajoso, e outros, como eu, vão como podem, aos trancos e barrancos mesmo…


Somos em geral muito imperfeitos e inconscientes, pensando em fazer o bem, fazemos às vezes o contrário… Muitas vezes nem é por nossa culpa, é o sistema que nos subverte, usa a nossa força em seu favor e deturpa a nossa palavra, a nossa ação… porque é da natureza da morte subverter a vida.
Mas não vamos esquecer de considerar que são as nossas atitudes dúbias o que mais alimenta o sistema e o mantém vivo, aliás, sem nós, ele não existiria…
Fiquei pensando no paradoxo que é a vida… Frágil como ela só, num segundo se apaga, basta um golpe, como o que recebeu o irmão do protagonista e que nós nem chegamos a conhecer: por um nada, um tiro de alguém que queria apenas os trocados que ele carregava no bolso…
Essa gratuidade da vida e ao mesmo tempo como ela é perene e difícil de ser destruída…
É bem uma conta matemática de pulsões psicanalíticas a ser deduzida: se houvesse mais pulsão de morte do que de vida, já estaríamos todos mortos… então, enquanto há vida, há esperança…
A solução é percebermos que estamos todos juntos no mesmo barco, ou nos afundamos todos ou fazemos juntos a travessia…
Vivemos nessa selva, nossas cidades são a lua de Pandora onde mora o povo Na’vi , com a desvantagem para nós que lá a vida é natural e bem-vinda. Nós, que nos julgamos metropolitanos e civilizados, achamos que deixamos para trás a vida desregrada e o perigo de ser devorado por alguma fera, quando na verdade nos transformamos nós as feras uns dos outros… Se a gente olhar com cuidado, para as nossas cidades, vamos ver o quão hostil elas são, é a mesma luta renhida por espaço e comida da cadeia alimentar onde o mais forte come mais e melhor, etc. etc.
Assistindo Avatar me passaram coisas muito sérias pela cabeça : tudo é muito real e nada romântico, está acontecendo agora em Avatar e em nossa sociedade….... Avatar é um conto de fadas que nos leva a pensar holístico sob as coisas, será que seria muito exagerado de minha parte afirmar que, ou aprendemos a amar tudo o que nos rodeia e a pensar holisticamente, ou então, estaremos todos fadados à extinção?




Bibliografia

  1. MILLER DE PAIVA, L. e outros. Séculos XX e XXI – O que permanece e o que se transforma (Atualização em psicoterapia e psicossomática. SP. 2000.
  2. ANZIE, D.O grupo e o inconsciente. Casa do Psicologo. SP. 1993.
  3. BUNNEL, L. O Anjo Exterminador, apud Kaes op. Cit., p.100

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