sábado, 4 de março de 2017

A Menina Que Não Sabia Ler - John Harding

1891. Nova Inglaterra. Em uma distante e escura mansão, onde nada é o que parece, a pequena Florence é negligenciada pelo seu tutor e tio. Guardada como um brinquedo, a menina passa seus dias perambulando pelos corredores e inventando histórias que conta a si mesma, em uma rotina tediosa e desinteressante. Até que um dia Florence encontra a biblioteca proibida da mansão. E passa a devorar os livros em segredo. Mas existem mistérios naquela casa que jamais deveriam ser revelados. Quem eram seus pais? Por que Florence sonha sempre com uma misteriosa mulher ameaçando Giles, seu irmão caçula? O que esconde a Srta. Taylor? E por que o tio a proibiu de ler? Florence precisa reunir todas as pistas possíveis e encontrar respostas que ajudem a defender seu irmão e preservar sua paixão secreta pelos livros - únicos companheiros e confidentes - antes que alguém descubra quem ousou abrir as portas do mundo literário. Ou será que tudo isso não seria somente delírios de uma jovem com muita imaginação?


Título: A Menina Que Não Sabia Ler                                       
Título Original: Florence and Giles
Autor:  John Harding
Ano: 2010
Páginas: 288
Editora: LeYa
Tradutor: Elvira Serapicos 


O título me chamou muito a atenção, acho que pelo fato de lembrar "A menina que roubava livros". Essa com certeza foi a intenção, despertar curiosidade nos leitores por causa dessa semelhança no nome. 

O livro é muito interessante,  - a doce e inteligente Florence - que usa as melhores artimanhas para esconder o seu mais precioso segredo, seu novo mundo, a biblioteca - onde ela sozinha aprende a ler e a ganhar muita sabedoria. O mundo que seu tio está longe de imaginar que ela possa ter conhecimento de sua existência.

Florence é uma menina com uma determinação surpreendente para sua idade. Ela faz o possível e o impossível para proteger seu irmão mais novo, chamado Giles. Não importando com as conseqüências que possam ocorrer com seus atos, ela se foca apenas em ter o irmão ao seu lado, em sua mente, a melhor forma de segurança para ele.

Após a morte da primeira preceptora do menino, em um acidente no lago da propriedade onde moravam, chega a misteriosa Srta Taylor para ocupar o lugar. E com a antipatia óbvia da preceptora por Flor, e a certeza que Flor tinha de que ela era um ser maléfico e sobrenatural que veio fazer mal a seu irmão, começa um verdadeiro suspense psicológico. 
Com uma inspiração clara em Edgar Allan Poe, o autor foi conduzindo o suspense com uma maestria incrível, nos fazendo nos perguntar o tempo todo o que realmente era real, se Florence tinha razão em sua desconfiança, e quem o ou que realmente era a Srta. Taylor.



“Porém, devido às opiniões rígidas de meu tio em relação à educação das mulheres, tenho escondido minha eloquência, soterrado meu talento e mantido apenas as formas mais simples de expressão aprisionadas em meu cérebro. Tal dissimulação transformou-se em hábito e foi motivada pelo medo, pelo grande medo de que, se falasse como penso, ficaria evidente meu contato com os livros e seria banida da biblioteca.” Pág. 11

“(...) e um dia estávamos brincando de esconde-esconde quando abri uma porta estranha, uma que até então sempre estivera trancada – ou assim pensava eu, provavelmente devido à sua rigidez, que meu eu mais jovem não conseguiu vencer - , para me esconder dele ali, e descobri esse imenso tesouro de palavras. A brincadeira foi logo esquecida; fui de prateleira em prateleira, pegando um livro atrás do outro, espirrando com a poeira ao abrir cada um deles. É claro que eu não sabia ler, mas por algum motivo isso me deixava ainda mais maravilhada, todos os milhares – acho que milhões -  de linhas codificadas com impressão indecifrável.” Pág. 13

“Desta maneira, absorvi o Declínio e queda, de Gibbon, os romances de Sir Walter Scott, Jane Austen, Dickens, Trollope, George Eliot, a poesia de Longfellow, Whtiman, Keats, Wordsworth e Coleridge, as histórias de Edgar Allan Poe, estavam todos lá. Mas um autor destacou-se entre todos. Shakespeare, é claro. Comecei com Romeu e Julieta, passei para as histórias e logo consumi rapidamente o resto. Chorei pelo rei Lear, fiquei com medo de Otelo e aterrorizada com Macbeth; Hamlet, simplesmente adorei. Os sonetos emocionaram-me.” Pág. 14

“O que eu mais gostava em Shakespeare era a facilidade com que lidava com as palavras. Parecia que, se não houvesse palavra para o que queria dizer, ele simplesmente a inventava. Ele poetava o idioma. Por inventar palavras, ele bate qualquer outro autor. Quando crescer e tornar-me escritora, e sei que me tornarei, pretendo shakespearear algumas palavras. E já estou praticando.” Pág. 15

“(...) e quando isso se tornava desinteressante, o que acontecia com frequência cada vez maior, eu me enfiava na biblioteca, enterrando-me naquele coração frio que mais e mais se transformava em meu verdadeiro lar.(...)Meu coração disparou. Se fosse descoberta seria o fim da minha vida. Livros nunca mais.” Pág. 19


No final o leitor é obrigado a tirar suas próprias conclusões. Quem é Florence realmente? Com a versão apenas da garota, somos levados a pensar sobre todos os fatos e acontecimentos ao decorrer da história.



Com que facilidade a mente se torna egoísta! Com que facilidade deixamos de lado a perspectiva de um futuro desastre pelo prazer do presente! Fiz-me de avestruz por causa dos livros. Coloquei a vida do meu irmão em risco pelo meu próprio prazer culpado, admito isso agora.”Pág. 93

“Você já pensou como seria estar morto?” Pág. 126

“(...) para derrotar seu inimigo, primeiro você precisa conhecê-lo.” Pág. 141
“(...) Era fantástico demais para qualquer um que não tivesse imaginação.” Pág. 192

Para leitores que gostam de finais felizes e sem enigmas não será muito agradável, mas para aqueles que adoram leituras além do óbvio, irão amar.

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