Um dos grandes "vilões" da teoria da reencarnação é o esquecimento.
Muita gente pergunta "
se esse negócio existe, por que não lembro de nadinha das vidas passadas?" ou "
Como vou pagar um karma se eu não lembro do que fiz?".
Ora, basta analisar a natureza humana para saber que o esquecimento das vidas passadas é mais do que justificável: é essencial. Muitos rezam todo dia o pai nosso. Mas quantos perdoam de verdade as ofensas? Durante UMA vida fazemos muitas besteiras das quais nos arrependemos. Imagine isso multiplicado por várias vidas! Outro detalhe: a mente (não o cérebro, já que usamos muito pouco da capacidade dele) não "processaria" adequadamente a existência de múltiplas realidades/personalidades coexistindo (quem já teve um "
deja vu" sabe que é quase uma pane na mente, tudo fica em câmera lenta, você fica desorientado...). Seria inviável e pouco prático, e a natureza em suas obras é evidentemente prática, embora não simplória.
Segundo Emmanuel (mentor de Chico Xavier) a sede da memória fica no corpo astral. Lá temos o registro de todas as vidas, todas as experiências, e como o corpo astral fica sobreposto ao corpo físico, ele equivale na psicologia ao inconsciente (ID), um manancial de informações inacessível normalmente ao consciente (daí que vem as técnicas de regressão, etc).
Mas mesmo assim há limitações ao quanto se pode acessar. Um outro espírito que saiba como fazê-lo pode ver suas vidas como quem vê um filme (e isso me lembra o modo como o cérebro armazena suas informações, como num holograma, mas isso é assunto para outro post), mas a pessoa desencarnada não fica automaticamente com lembranças de todas as vidas, pois ainda está sob efeito da última encarnação. É preciso um trabalho de "despersonalização" para pessoa assimilar as outras vidas, coisa que aqui na Terra muitos já o fazem, e assim descobrem até aqui mesmo fragmentos de outras vidas.
Quando reencarnamos, o acesso às informações do corpo astral é magneticamente limitado (algo como colocar uma senha) e, se tal informação não pode ir para o consciente, não irá nem com hipnose ou reza braba.
Isso é essencial para missão aqui, porque muitas vezes essas missões são de reconciliação (harmonização, como chamam do "lado de lá") e isso se faz com aqueles que você odiou ou prejudicou em vidas passadas.
É possível que os pais recebam um filho com todos um "gênio ruim". Vão olhar para o alto e dizer
"Deus, fomos excelentes pais! Que fizemos pra merecer isso?!" quando a resposta está no fato de que um dos dois (ou os dois) foi responsável pelo que esse garoto é hoje, OU até mesmo responsável pela pessoa que ensinou/levou esse espírito a ser o que ele é hoje. Se formos ver o Karma pelo Taoísmo, se você for responsável por causar uma desarmonia, ela vai interferir no sistema de tal forma que as ondas de choque desarmônicas vão acabar chegando a você muito maiores, como uma bola de neve descendo pela montanha.
Perguntarão: "
Mas, como vou ser amigo, pai ou filho de uma pessoa que odiei (ou que me odeia) em vidas passadas? Como vou transformar isso em amor?". A resposta é "
Pelo condicionamento na carne". O ser humano é como um microcomputador com a "casca" de um rádio de válvula. Uma mente com potencial enorme (talvez até ilimitado, embora não saibamos disso) mas limitada por uma veste biológica não muito diferente da de um macaco (o DNA dos dois é apenas 1,5% diferente). Pra que? Pra ser influenciado pelos instintos, se apaixonar, se apegar, criar laços familiares, sentir fome e dores no físico (
e assim aprender a não fazer certas coisas, como um rato num laboratório).
O "
amor à primeira vista" é resultado de vivências passadas, afinidades espirituais, acentuadas pelo instinto de conservação da espécie. Essas pessoas podem se juntar para dar apoio na missão uma da outra, para orientar, e também para resolver certas "pendências", harmonizar-se.
Uma união que começa como apoio, sem dívidas, mas que acaba tragicamente VAI TER de ser refeita em outra vida, até que não haja mágoas. Os dois vão se apaixonar, porque lá no íntimo (no "coração", como dizem) vai haver uma ressonância da vibração de um no outro. A lembrança e o sentimento dos bons momentos juntos voltarão à tona (sem que percebam isso no consciente, obviamente), mas, se certos hábitos do passado voltarem, sentimentos negativos também aflorarão (inconscientemente, também) e pode começar tuuuudo de novo.
É justamente essa desarmonia que deve ser combatida, não com fingimento de que está tudo OK, não com tolerância de um lado apenas, mas com UNIDADE, com diálogo, com AMOR de ambas as partes. Um lado cede, o outro cede também, os dois lados se respeitam, mas também contribuem para melhorar o que acham errado um no outro (não com acusações, mas com "toques", pois somente a própria pessoa - com o aflorar da consciência e maturidade - é que pode mudar o próprio jeito, pois de outra forma será fingimento ou condicionamento).
Então, estamos "condicionados" a sermos uma individualidade, em prol da missão de restaurar o equilíbrio que nós mesmos afetamos. Mas ainda perguntarão:
"Digamos que minha missão não seja com alguém específico que me odeie, digamos que seja construir casas pra uma comunidade que mandei destruir na 2ª guerra. Não seria mais fácil que eu lembrasse pelo menos disso pra eu construir logo essas malditas casas?" Não.
Não há mérito algum nesse tipo de "bondade" dirigida. Do ponto de vista terreno e materialista seria ótimo, mas não para quem pensa em termos de milênios de evolução do espírito, pois que seria uma solução imediatista, e não haveria aprendizado real. É como alguém que ficou devendo ao banco por causa do vício da bebida, se mata de trabalhar para pagar as dívidas, mas continua um viciado, pronto para se endividar novamente.
Ficaremos para sempre reencarnando nesse corpo quase símio? Não.
Existem muitas outras "moradas na casa do Pai", de acordo com o tipo de aprendizado necessário para o espírito. O planeta Terra é lindo como infra-estrutura, mas é um Carandiru, em termos de população (não é preciso ser um grande observador para notar isso). Basta deixar de se comportar como um elemento perigoso aos seus semelhantes para sair da prisão (e se você está aqui... bem, não foi por "erro de Deus").