Segundo uma nova pesquisa da Universidade Emory (EUA), heróis e psicopatas podem ter algo em comum: um pouco de altruísmo.
A constatação pode parecer incongruente, dado que a falta de empatia com os outros é uma característica chave da psicopatia, que também é marcada pela impulsividade, charme superficial e falta de remorso.
No entanto, os pesquisadores afirmam que alguns traços da personalidade psicopata podem ser, em algumas situações, positivos.
“Traços de personalidade pode ser bons ou ruins, dependendo da pessoa, da situação e de como eles são canalizados. Tome o exemplo do domínio destemido, que descreve uma ousadia frequentemente vista em psicopatas. Ser muito destemido tem suas desvantagens, com certeza, mas também tem benefícios, como ser heroico”, explica o pesquisador e psicólogo Scott Lilienfeld.
Curiosamente, muitos psicopatas às vezes mostram lados altruístas, bem como pessoas heroicas agem mal em outras áreas de suas vidas.
Em 2005, por exemplo, um empresário australiano que salvou mais de 20 pessoas do tsunami do Oceano Índico na Tailândia foi preso por assalto e roubo ao voltar para casa. Mesmo o serial killer americano Ted Bundy, que matou pelo menos 30 pessoas e geralmente é considerado um psicopata, já se voluntariou para uma linha de prevenção de suicídio.
“Não estamos dizendo que Ted Bundy é um herói. Mas ele definitivamente se envolveu em algum comportamento pró-social”, disse Sarah Francis Smith, doutoranda na Universidade Emory e coautora do estudo.
A pesquisa
Foram esses comportamentos contraditórios que incentivaram os pesquisadores a examinar as ligações entre traços de personalidade psicopática e heroísmo, que eles definiram como o comportamento altruísta que envolve algum risco, seja físico ou social.
Em dois estudos com alunos de graduação envolvendo um total de 243 voluntários, e em um estudo de 457 adultos recrutados on-line, os pesquisadores pediram às pessoas para preencher questionários sobre seus atos heroicos, mesmo os tão pequenos quanto separar uma briga pública ou ajudar um estranho a empurrar um carro de uma vala.
Os voluntários também responderam um questionário de personalidade para determinar seu nível em traços de personalidade psicopática. Nenhum dos voluntários era o psicopata mais perigoso do mundo, mas, como a personalidade é um espectro, algumas pessoas estavam mais próximas de ser psicopata do que outras.
Os resultados revelaram que ter pelo menos dois traços psicopáticos está ligado ao comportamento heroico. Em uma amostra do estudo com alunos e na amostra de adultos, um traço psicopata chamado domínio destemido – essencialmente ousadia – estava ligado com maior heroísmo e altruísmo em relação a estranhos.
Na outra amostra de alunos, pessoas que tinham níveis mais elevados de antissocialidade impulsiva (traço marcado pela agressividade e comportamento antissocial) também foram mais propensas a relatar heroísmo.
No entanto, pessoas destemidas e antissociais também podem ser mais propensas do que a média das pessoas a mentir, é claro. Para controlar essa possibilidade, Smith, Lilienfeld e seus colegas inseriram algumas perguntas de controle nas pesquisas.
Algumas foram projetadas para excluir pessoas com mania de grandeza: as que responderam “sim” a perguntas como se já tinham tomado os controles de um avião durante um cenário de aterrissagem forçada ou salvado várias pessoas de erupções vulcânicas foram assumidas como mentirosas e retiradas do estudo. Algumas das outras perguntas eram mais sutis e projetadas para capturar pessoas que respondiam a questões de maneira a melhorar sua imagem. Os pesquisadores estatisticamente controlaram por altas pontuações nestas questões.
Finalmente, os pesquisadores fizeram mais uma análise envolvendo heroísmo, psicopatia e os presidentes dos Estados Unidos. Usando descrições de biógrafos e especialistas em história presidencial, os cientistas compararam os prováveis traços de personalidade psicopata dos 42 presidentes até e incluindo George W. Bush com seus registros de guerra.
Embora esta análise tenha sido pequena e limitada, mostrou que, quanto mais personalidade psicopática, mais provável era que o presidente tivesse um registro de comportamento heroico na guerra antes de tomar posse.
Herói nasce ou é feito?
Pode parecer óbvio, em retrospecto, que pessoas ousadas, impulsivas ou destemidas sejam mais propensas a correr para um prédio em chamas ou puxar uma vítima de acidente de destroços, mas o estudo pode ajudar a responder uma outra questão: a de saber se os heróis nascem assim ou são feitos.
Algumas pessoas estão provavelmente apenas no lugar certo na hora certa, e aproveitam a ocasião, não importa seus traços de personalidade. Outras podem ser “perfeitas” para o trabalho.
“Em alguns casos, o heroísmo pode encontrar as pessoas. Em outros, elas podem encontrar o heroísmo por causa de quem são”, disse Lilienfeld.[LiveScience]
Fonte: HypeScience
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