O primeiro post desta série foi dedicado às razões pelas quais as pessoas procuram a ajuda de um psicanalista ou de um psicoterapeuta. Vimos que, via de regra, as pessoas procuram tratamento quando estão sofrendo, mas sofrendo a ponto de não conseguirem vislumbrarem, sozinhas, a solução para seu sofrimento. Isso porque elas se sentem presas, limitadas, como se algo à revelia delas próprias as impedisse de fazerem o que gostariam.
É justamente com base nessa condição inicial daqueles que recorrem aos serviços do analista que se estabelecem os objetivos do tratamento. Logo, se o paciente se sente preso, cercado de amarras, a finalidade do tratamento deve ser a de ajudá-lo a se ver livre dessa prisão. Simples. Afinal todo ser possui essa potência que faz com que o ser persevere no próprio existir e, se possível, se expanda.
Tal potência pode ser refreada ou fortalecida de acordo com as experiências que a gente vivencia. Penso que a psicanálise seja uma das experiências capazes de nos auxiliar a fortalecer a nossa potência de agir, justamente porque a matéria-prima de seu funcionamento é justamente a investigação cuidadosa daquilo que diminuiu a nossa potência e fez com que procurássemos ajuda. Um dos objetivos da psicanálise, portanto, é nos dar mais “liberdade de movimentos”.
O que a neurose faz conosco é o oposto: ela restringe essa liberdade, por exemplo: impedindo um jovem de ter uma ereção completa ou uma dona de casa de sair à rua por medo das pessoas ou um executivo de trabalhar por não conseguir deixar de repetir: “Controle remoto” 30 vezes a cada 15 minutos…
A psicanálise ajuda pessoas como essas a se verem livres dessas amarras que as impedem de alcançarem seus objetivos, terem maior bem-estar etc. Todavia, há um detalhe importantíssimo que é o que diferencia o método psicanalítico em relação a outros tipos de tratamento: a psicanálise só consegue ajudar as pessoas a terem maior liberdade de movimentos precisamente porque ela se coloca outro objetivo como anterior a esse! Qual objetivo? Basta que você leia meia dúzia das páginas de “Estudos sobre Histeria”, livro que Freud escreveu com Joseph Breuer, para que você logo se dê conta. Você verá naquelas páginas, Freud interessado não tanto em fazer sumir o sintoma das histéricas, mas sim em extrair delas um saber sobre aqueles sintomas, em descobrir-lhes as causas! Ou seja, meus caros: a psicanálise consegue ajudar as pessoas a terem sua saúde restabelecida ao ter como finalidade inicial não a eliminação de seus sintomas, isto é, as amarras, mas sim a reconstrução de sua história, a descoberta de seu desejo e, assim, gradualmente os sintomas deixam de ter serventia e o doente consegue abdicar da prisão da qual tanto gostava – sem o saber. Matam-se dois coelhos com uma única pedrada.
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