Você tem alguma mania que lhe causa grande incômodo e consome muito tempo de sua rotina?
Preocupa-se excessivamente com limpeza ou organização, lava as mãos várias vezes ao dia ou confere se fechou o gás, portas e janelas com receio de que algo muito desagradável possa acontecer?
Estas e outras atitudes aparentemente sem sentido são características do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), problema que acomete cerca de 4% da população mundial e que traz intenso sofrimento aos seus portadores.
O TOC é, sem qualquer sombra de dúvida, o mais complexo quadro dentre os Transtornos de Ansiedade (medos), que intriga tanto os profissionais da classe médica quanto os da psicologia. O transtorno se caracteriza pela presença de obsessões (pensamentos repetitivos e intrusivos) e/ou compulsões (comportamentos repetitivos) – conhecidas popularmente como "manias" -, cuja vítima se torna prisioneira de sua própria mente.
TOC e Gravidez
Donald Winnicott, pediatra e psicanalista britânico, chamou a atenção para a preocupação normal que toma conta de pais de primeira viagem e salientou a importância desse fato para o aumento da habilidade materna de organizar um ambiente seguro capaz de suprir física e psicologicamente o bebê. Se pensarmos na evolução da espécie humana, percebemos que certas doses de comportamentos obsessivos e compulsivos de caráter materno-paternal são muito importantes para a segurança, a saúde e a formação ética dos filhos em seus primeiros anos de vida. Tudo com grandes doses de amor, é claro!
Você que é mãe, está esperando um bebê ou mesmo adotou ou quer adotar uma criança, responda:
_ Quantas horas por dia você fica pensando em sua "cria"?
_ Quantas vezes você vai ao quarto do bebê, mesmo quando está tudo bem, só para assegurar-se de que realmente não há nada de errado?
_ Quantas vezes você fica preocupada se seu leite é bom, se o nenê está com fome, mesmo que ele não esteja chorando?
_ E, quando você ouve notícias sobre uma nova doença, pensa logo que o vírus ou bactéria vai contaminar seu bebê a qualquer instante?
É importante destacar que, entre o oitavo mês de gravidez e os três primeiros meses após o parto, tais comportamentos são considerados normais e até adaptativos, desde que não tragam aos pais, em especial à mãe, um sentimento de ansiedade ou angústia extremado, como alterar as orientações do pediatra por achá-las pouco seguras, entre outras atitudes exageradas. Por outro lado, existem casos que chamam a atenção de forma preocupante. Mães no pós-parto relatam que sua mente é ocupada de sete a doze horas por dia com pensamentos sobre o bebê. Duas semanas após o parto, não podiam ficar cinco minutos sem pensar no filho, mesmo se ele estivesse dormindo tranquilamente, sem manifestar nenhum tipo de desconforto.
De maneira similar à que encontramos no TOC, essas mães descrevem uma série de comportamentos (rituais) com a intenção clara de evitar que qualquer mal ocorra com seu bebê. Esses comportamentos podem ir de checagens diversas no bercinho à limpeza e desinfecção da casa e proibição de visitas. Hoje sabemos que existe uma sobreposição entre os sistemas neurobiológicos do TOC e os dos comportamentos maternos. Os gânglios da base, estruturas cerebrais envolvidas no TOC, também fazem parte do sistema da oxitocina. A oxitocina é um hormônio que ajuda a liberar o leite materno, contrai o útero durante o parto e auxilia a liberação da placenta. Estudos recentes dão destaque a sua influência sobre alguns aspectos do comportamento materno.
Todos os estudos que correlacionam TOC e oxitocina parecem apontar para um subgrupo de mulheres que teriam sintomas de pensamentos obsessivos ritualísticos, ambos geradores de muito desconforto e sofrimento e iniciados durante ou logo após a gravidez. Embora haja fortes suspeitas quanto à participação dos estrogênios (hormônios femininos) nesse processo, é precipitado juntarmos peças de um jogo de probabilidades complexas. No entanto são elementos que devem ser levados em conta quando falamos de fatores que predispõem ao desenvolvimento do TOC.
Preocupa-se excessivamente com limpeza ou organização, lava as mãos várias vezes ao dia ou confere se fechou o gás, portas e janelas com receio de que algo muito desagradável possa acontecer?
Estas e outras atitudes aparentemente sem sentido são características do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), problema que acomete cerca de 4% da população mundial e que traz intenso sofrimento aos seus portadores.
O TOC é, sem qualquer sombra de dúvida, o mais complexo quadro dentre os Transtornos de Ansiedade (medos), que intriga tanto os profissionais da classe médica quanto os da psicologia. O transtorno se caracteriza pela presença de obsessões (pensamentos repetitivos e intrusivos) e/ou compulsões (comportamentos repetitivos) – conhecidas popularmente como "manias" -, cuja vítima se torna prisioneira de sua própria mente.
TOC e Gravidez
Donald Winnicott, pediatra e psicanalista britânico, chamou a atenção para a preocupação normal que toma conta de pais de primeira viagem e salientou a importância desse fato para o aumento da habilidade materna de organizar um ambiente seguro capaz de suprir física e psicologicamente o bebê. Se pensarmos na evolução da espécie humana, percebemos que certas doses de comportamentos obsessivos e compulsivos de caráter materno-paternal são muito importantes para a segurança, a saúde e a formação ética dos filhos em seus primeiros anos de vida. Tudo com grandes doses de amor, é claro!
Você que é mãe, está esperando um bebê ou mesmo adotou ou quer adotar uma criança, responda:
_ Quantas horas por dia você fica pensando em sua "cria"?
_ Quantas vezes você vai ao quarto do bebê, mesmo quando está tudo bem, só para assegurar-se de que realmente não há nada de errado?
_ Quantas vezes você fica preocupada se seu leite é bom, se o nenê está com fome, mesmo que ele não esteja chorando?
_ E, quando você ouve notícias sobre uma nova doença, pensa logo que o vírus ou bactéria vai contaminar seu bebê a qualquer instante?
É importante destacar que, entre o oitavo mês de gravidez e os três primeiros meses após o parto, tais comportamentos são considerados normais e até adaptativos, desde que não tragam aos pais, em especial à mãe, um sentimento de ansiedade ou angústia extremado, como alterar as orientações do pediatra por achá-las pouco seguras, entre outras atitudes exageradas. Por outro lado, existem casos que chamam a atenção de forma preocupante. Mães no pós-parto relatam que sua mente é ocupada de sete a doze horas por dia com pensamentos sobre o bebê. Duas semanas após o parto, não podiam ficar cinco minutos sem pensar no filho, mesmo se ele estivesse dormindo tranquilamente, sem manifestar nenhum tipo de desconforto.
De maneira similar à que encontramos no TOC, essas mães descrevem uma série de comportamentos (rituais) com a intenção clara de evitar que qualquer mal ocorra com seu bebê. Esses comportamentos podem ir de checagens diversas no bercinho à limpeza e desinfecção da casa e proibição de visitas. Hoje sabemos que existe uma sobreposição entre os sistemas neurobiológicos do TOC e os dos comportamentos maternos. Os gânglios da base, estruturas cerebrais envolvidas no TOC, também fazem parte do sistema da oxitocina. A oxitocina é um hormônio que ajuda a liberar o leite materno, contrai o útero durante o parto e auxilia a liberação da placenta. Estudos recentes dão destaque a sua influência sobre alguns aspectos do comportamento materno.
Todos os estudos que correlacionam TOC e oxitocina parecem apontar para um subgrupo de mulheres que teriam sintomas de pensamentos obsessivos ritualísticos, ambos geradores de muito desconforto e sofrimento e iniciados durante ou logo após a gravidez. Embora haja fortes suspeitas quanto à participação dos estrogênios (hormônios femininos) nesse processo, é precipitado juntarmos peças de um jogo de probabilidades complexas. No entanto são elementos que devem ser levados em conta quando falamos de fatores que predispõem ao desenvolvimento do TOC.
Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva
Médica graduada pela UERJ com pós-graduação em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Honoris Causa pela UniFMU (SP) e Presidente da AEDDA – Associação dos Estudos do Distúrbio do Déficit de Atenção (SP). Diretora da clínica Medicina do Comportamento (RJ), onde faz atendimento aos pacientes e supervisão dos profissionais de sua equipe. Escritora, realiza palestras, conferências, consultorias e entrevistas nos diversos meios de comunicação, sobre variados temas do comportamento humano.
Livros Publicados:
Mentes Inquietas - TDAH: Desatenção, hiperatividade e impulsividade [Publicação revista e ampliada]
Mentes e Manias: TOC: Transtorno Obsessivo-compulsivo [Publicação revista e ampliada]
Sorria, você está sendo filmado (em parceria com o publicitário Eduardo Mello)
Mentes Insaciáveis: Anorexia, bulimia e compulsão alimentar
Mentes Perigosas: O psicopata mora ao lado
Bullying: Mentes perigosas nas escolas
Mundo Singular: Entenda o autismo
Corações Descontrolados: Ciúmes, raiva e impulsividade
E-mail: anabeatriz@medicinadocomportamento.com.br
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