quinta-feira, 4 de julho de 2013

AMORES DESTRUTIVOS

Eu, mulher bonita e inteligente, busco homem extremamente problemático para relacionamento sério. ass.: A Escrava de Eros  (trecho do livro Escravas de Eros de Taty Ades)

Nenhuma mulher suporta ser espancada, certo? Errado!
Suportar difere muito do conceito de gostar - mas se suportamos homens doentes e problemáticos em nossas vidas, por que será que fazermos isso?

A SÍNDROME DA CODEPENDÊNCIA  AFETIVA 
As vezes nos defrontamos com situações emocionais singulares, difíceis, mas aparentemente normais, afinal todos nós temos problemas afetivos, certo? Errado!
Comportamentos afetivos que nos parecem tão familiares e generosos são um dos grandes males da nossa sociedade atual, e a fonte de grande sofrimento para uma parcela considerável da nossa população - A Sindrome da Codependência Afetiva.
O termo, conhecido principalmente nas esferas psicanalíticas, define a sindrome das pessoas que só sabem estabelecer relacionamentos baseados em problemas, brigas, como diz a canção popular "entre tapas e beijos".
Um codependente é uma pessoa que desenvolve relações baseadas em problemas, pouco saudáveis em todas as esferas. O foco está sempre no outro e o vínculo não é o amor ou a amizade, mas a doença, o poder e o controle. No fundo, o codependente acredita poder mudar os outros e seus relacionamentos são criados não na perspectiva de respeitar as pessoas, mas de ensinar o que acredita ser melhor para elas. O codependente é motivado pelo desejo de transformar o outro - e mandar nele ou, como vimos no texto acima, ser dominado pelo outro. 
Com certeza você conhece um casal assim, ou mesmo já vivenciou uma relação baseada na codependência afetiva. Por exemplo, um caso clássico: a mulher que casa com um drogado achando que ela poderá ajudá-lo a parar com o vicio. Só que ele só vai parar, se ele próprio quiser parar com o vício. Essa mulher entra nesse casamento porque provavelmente tem um histórico que a torna dependente da "adrenalina" que experimenta na relação. Ela melhora sua autoestima sentindo-se necessária para o marido. Ele, por sua vez, nunca vai se livrar do vicio enquanto se escorar nela. O vinculo desse casal não é o amor, mas a doença que eles tem em comum. É a dinâmica em torno do vício. 
Quando você analisa os casos de dependência, percebe que, além da predisposição genética, existe a incorreta funcionalidade da família. As duas coisas se somam, mas não dá para saber qual é a causa. Se houver a predisposição genética, mas a família for saudável, pode ser que o vício não se desenvolva. Numa família saudável, ninguém usa drogas ou abusa do álcool. Também sabemos que o viciado só vai se curar se a família inteira entrar no tratamento. Ou, em outra hipótese, se ele distanciar emocionalmente da família, que geralmente é o fator reativo.
Nem sempre existe algum dependente de drogas ou de álcool  na família de um codependente. Na família de um viciado, todos são codependentes, mas, nem todo codependente tem um viciado na família. Fica mais fácil enxergar a síndrome quando existe o vício, mas o problema é muito mais amplo que isso. 
O codependente joga o foco na outra pessoa, faz muito por ela e pouco por si. Não porque seja altruísta, mas porque se acha onipotente.
Controlando a vida de outra pessoa, ele acredita que a dele estará sob controle também.  O codependente tem muito medo de ficar sozinho, por isso faz tudo para garantir afeto e se sentir indispensável - até mesmo alimentar a fraqueza alheia. 
O codependente sofre violentamente e ele se mede pelo sentimento do outro em relação a ele, como uma criança faz com seus pais. 
Essa síndrome se desenvolve de uma forma muito simples. O codependente vem de uma família disfuncional e sofreu algum tipo de abuso na infância: mensagens controversas emitidas pelos pais, abuso físico e assim por diante. Essas mensagens controversas são aparentemente inocentes tipo "estou batendo em você porque o amo". Dá um nó na cabeça da criança, e ela inconscientemente associa o amor á violência física. 
A codependência também se apresenta em adultos que, quando jovens, presenciaram situações de conflito entre familiares ou eram usados por  pais para obter coisas junto ao outro. As crianças crescem recebendo estímulos de codependência no dia a dia porque nossa sociedade é doente. Exalta casais que se completam e a busca de almas gêmeas, como se ninguém fosse inteiro. 
A tradição judaico-cristã estimula o altruísmo, o sacrifício e a culpa em todos, independentemente do sexo. Mas nossa cultura exerce uma pressão muito grande para que a mulher assuma papéis que, se extremados, podem levar á codependencia. Ela é criada para ser mais doadora, mais maternal, a grande mãe, e isso a deixa mais suscetível. Nossa sociedade é extremamente individualista, mas prega o "eu" de forma equivocada, desequilibrada, sem respeito nenhum alheio. 
O codependente é alguém controlador, exigente consigo mesmo e com os outros, com baixa autoestima, minucioso, rígido, com dificuldades de perdoar e compreender, muito crítico, mas refratário a criticas. 
Todo mundo reconhece esses comportamentos. Mas é preciso avaliar quantos desses sintomas a pessoa tem, em que intensidade e com que frequência. É isso que faz a diferença entre uma pessoa que se preocupa com os outros e um codependente. 

A CURA 
Precisamos mudar nossa atitude e passar a cuidar das nossas emoções, crenças e dos nossos pensamentos da mesma maneira que cuidamos do nosso corpo. 
A recuperação começa quando o codependente conquista distanciamento emocional : deixa de falar do outro, volta-se para si mesmo e estabelece limites para não invadir ou ser invadido.
O tratamento geralmente consiste em psicanalise, em consultório, e também em grupos de Codependentes.
No consultório, tenta-se resgatar a criança que foi ferida na família disfuncional. No grupo, lida-se com a culpa e a vergonha. O codependente não é criticado. Ao contrário, vê que há várias pessoas como ele. Assim, não se sente isolado e consegue melhorar sua autoestima.
É difícil falar em cura, é melhor falar em controle e conscientização, porque é uma síndrome emocional. É diferente do vício em drogas, em que geralmente há uma dependência química e física. No entanto, as pessoas só admitem a doença e procuram terapia quando a vida fica incontrolável.  

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