Toda busca espiritual deve levar ao encontro com o próprio buscador. Buscamos sem saber direito a razão, como se um vazio nos movesse na tentativa de preenchê-lo, ainda que quase nunca saibamos o que está realmente faltando.
Santo Agostinho dizia que esse vazio somente seria preenchido por Deus, que é o espaço onde ele cabe, só ele, e então transformaram Deus em um negócio extremamente lucrativo. O tal "espaço de Deus" virou outra coisa e o vazio ficou entulhado. Despejaram Deus de dentro e disseram que está fora, nos templos, nas religiões, nos livros, fora, sempre fora.
Nos perdemos em nossa busca quando deixamos de olhar para dentro. Nos perdemos e o vazio ficou barulhento. Nos perdemos e o caminho ficou confuso, as palavras difusas, os sentimentos enganosos, nos perdemos.
É preciso encontrar-se. Saber que o vazio é a falta de nós mesmos, sufocados por tantos condicionamentos, tantas crenças, tantos medos, tanta culpa, tanta coisa que disseram que deveríamos ser. Nos transformamos em sub produtos culturais, reagimos a estímulos, nos moldamos conforme o ambiente, o tempo, a sociedade, a cultura, os interesses, as crenças, até percebermos que estamos longe. Saudade de nós mesmos.
Nenhuma busca espiritual será frutífera se não houver espaço para o reencontro. Desintoxicar-se do ego, reconectar-se com o próximo, vincular-se à vida, perceber-se em tudo. Encontrar-se é ser quem é. Esvaziar-se.
É desentulhar o "espaço de Deus", aceitando as desconstruções necessárias, se expondo a luz da consciência, até que tudo esteja limpo, vazio, desobstruído, espaço em silêncio.
Não precisamos preencher vazios, precisamos retomá-los para que então nossa busca nos revele quem somos, nos preencha de Deus. Talvez Santo Agostinho tivesse razão.
Não precisamos preencher vazios, precisamos retomá-los para que então nossa busca nos revele quem somos, nos preencha de Deus. Talvez Santo Agostinho tivesse razão.
Por Flavio Siqueira
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