quinta-feira, 21 de agosto de 2014

“Os sentidos do sentir”

“Os sentidos do sentir”

sentirHeloisa Abrantes e Martha Zanetti – Analistas Bioenergéticas -
Utilizando os conceitos da Análise Bioenergética de A. Lowen, aliada ao processo de desenvolvimento da relação mãe, bebê e o seu meio ambiente, contidos nos livros de D. Winnicott, Didier Anzieu, entre outros autores (ver bibliografia) que se dedicaram à compreensão das necessidades do bebê e da criança, e de como deveriam ser atendidas para um desenvolvimento saudável. Neste trabalho oferecemos ao adulto, uma série de experimentações dos sentidos: audição, visão, paladar, olfato e tato. Esta percepção do aparato sensorial torna possível uma conexão mais profunda para a percepção adulta de si e de seu meio ambiente.
Pensar bioenergéticamente é pensar de maneira integrada: corpo e mente. Buscar através do corpo, a expressão verdadeira e coerente com os sentimentos é o legado deixado por Lowen.
Vivemos em um mundo dissociado em vários aspectos. O homem vive dissociado do seu meio ambiente e do seu corpo, perdendo o prazer de viver e não cuidando e não protegendo a natureza, fonte de vida e prazer. Este foi alto preço do capitalismo. Lowen coloca em seu último livro (Uma Vida para o Corpo), que preocupação e obsessão pelo dinheiro, tirou oespaço do prazer primitivo pela vida.
Nesta condição de separado daquilo que realmente é, o ser humano não se sente igual aos outros, ou seja, não se reconhece, sendo ele próprio, humano. Vivemos numa época narcisista e violenta. Ao pensarmos sobre esta questão, nos deparamos com a importância da mãe “suficientemente boa” winnicottiana, que é capaz de inocular o amor no coração do pequeno ser.
A capacidade de SER um ser humano não dissociado do ambiente e de si mesmo, depende desta relação primitiva com a mãe e da capacidade ou possibilidade deste sujeito amar e sentir compaixão. Porque somente quando nos identificamos com o outro, é que podemos experimentar compaixão. Se uma pessoa se sente especial ou excluída, ela não pertence a nada, ficando isolada no calabouço de seu falso self, ou seja, seu narcisismo. È na relação mais primitiva com a mãe, que este futuro adulto, o bebê, sente a segurança da presença do amor da mãe. Então experimenta cada sensação de forma integradora, podendo viver a expansão do prazer e do conforto, na medida em que é atendido amorosamente, em suas necessidades.
O primeiro ambiente, do bebê é o cheiro e a pele da mãe (olfato e tato) é o som da voz dela (audição), que o acalma. A mãe que pode estar verdadeiramente em contato com seu bebê, não o dissocia na expressão e satisfação de seus anseios e necessidades. O bebê vai estruturando-se diante de um mundo que o acolhe. A saúde está nesta integração do sentir e expressar, ou seja, dar sentido ao sentir. Esta possibilidade de expressar é a fonte da vitalidade.È este ambiente-mãe, assegurador que fortalece o EGO e permite que o ID seja uma fonte inesgotável de energia, saúde e saber.
Quando a relação com a mãe é insatisfatória, o adulto desenvolve uma vida falsa, fundamentada em reações e estímulos externos, que o impede de ter uma vida própria, levando-o ao desprazer e depressão. Este desprazer é gerador de sofrimento, contraindo a musculatura, impedindo a pessoa de relaxar, produzindo muita confusão mental e somatisações.
A possibilidade de relaxar vem do contato mais profundo com o corpo. È no corpo, nas sensações que a pessoa “escuta” e identifica o sentimento. È nesta seqüência: sensação, sentimento e expressão adequada que a função integradora e auto-organizadora do organismo acontece.
Acreditamos que ao relaxar, esta função auto-organizadora que pode não estar disponível para a pessoa em função dos seus bloqueios, ou seja, em função de suas defesas, pode ser acessada. A pessoa recupera (re-significa), ou cria o ambiente assegurador perdido ou ausente, aprendendo a estar em contato vital com as sensações, podendo então ter clareza do sentimento e sua expressão de forma adequada.
Em nosso trabalho, esperamos criar a possibilidade dos sentidos trazerem sensações agradavelmente vividas, de forma integradora. Com a audição, sentido mais primitivo do ser humano, consideramos o ouvir como função auditiva e também ter consciência, ou seja, ouvir a si mesmo e na relação com o outro, ouvir como estar em contato com o outro. Colocaremos os sentidos nesta visão dinâmica da relação consigo mesmo e com o outro, na metáfora, da relação interna e com o outro.
Vitalidade é estar no mundo de forma flexível e harmoniosa, sentindo os cheiros, os gostos, deixando a beleza da natureza preencher de vida nossos olhos e o contato com o outro, aquecer e enternecer nossos corações.
Viver bioenergéticamente é estar em contato com o mundo, com a natureza, com o outro. È viver profundamente a satisfação de estar vivo.
“O corpo tem sua própria sabedoria e aceitar as realidades da vida e ouvir o corpo leva à sensação de realização. Para mim, a realização está em viver a vida do corpo e sentir sua energia”.A. Lowen, Uma Vida Para O Corpo.
Breve descrição da parte prática:
Vivência – deitados em relaxamento, buscar:
1 – o silêncio interno: a sensação dos batimentos do coração, e o som da própria respiração.
2 – o primeiro sentido: audição – ouvir os sons do batimento cardíaco (CD).
Considerando a audição como o sentido mais primitivo fazer a ligação com o corpo da mãe (com música deitados).
3 – o olhar: olhar, ver e sentir o olhar como a janela da alma – ligação com o diafragma (respiração).
4 – o olfato: o cheiro da mãe, o cheiro do mundo, os cheiros do ambiente presente. (lavanda / capim).
5 – o paladar: o sabor, o gosto pela vida, experiência gustativa, ligação com a barriga, o sentir visceral, o sentir primitivo com o gosto do corpo da mãe, gerando sensações boas, de expansão e relaxamento e sensações desagradáveis de retraimento, medo. (sabor de fruta, de chocolate).
6 – o tato: o sentir do corpo da mãe ao meio ambiente, o outro, o que desperta em nós contato (contato com o outro).
7 – Integração do Corpo e do meio ambiente (a bioenergética expressa nos contatos).
Referências Bibliográficas:
1 – ANZIEU, D. O eu-pele. Tradução por: Zakie Yazigi Rizkallah e Rosaly
Mahfuz. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1989.
2 – BOWLBY, J. Apego. Tradução por: Álvaro Cabral. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
Tradução de: Attachment and loss.
3 – ___________. Formação e rompimento dos laços afetivos. Tradução
por: Álvaro Cabral. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Tradução de: The making and breaking of affectional bonds.
4 – ___________. Perda. Tradução por: Valtensir Dutra. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
Tradução de: Attachment and loss.
5 – ___________. Separação. Tradução por: Leonidas H. B. Hegenberg,
Octanny S. da Mota e Mauro Hegenberg. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
Tradução de: Attachment and loss.
6 – DOLTO, F. Solidão. Tradução por: Ivone Castilho. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
Tradução de: Solitude.
7 – LOWEN, A. Uma vida para o corpo. Tradução por: Maria Silvia Mourão
Netto. São Paulo: Summus, 2007.
Tradução de: Honory the body.
8 – MACDOUGALL, J. Teatros do corpo. Tradução por: Pedro Henrique
Bernardes Rondon. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Tradução de: Theaters of the body.
9 – MAHLER, M. O nascimento psicológico da criança – simbiose e
individuação. Artmed, 2002.
10 – MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. Tradução por:
Carlos Alberto Ribeiro de Moura. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
Tradução de: Phénoménologie de la perception.
11 – MONTAGU, A. O significado humano da pele. São Paulo: Summus,
1986.
12 – WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Artes
Médicas, 1990.
13 – _________________. O gesto espontâneo. Tradução por: Luís Carlos
Borges. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
Tradução de: The spontaneous gesture.
Nome e e-mail autores:
Heloisa Abrantes – heloabrantes@hotmail.com
Martha Zanetti – acasadorio@uol.com.br
Instituição a qual pertence:
SABERJ – Sociedade de Análise Bioenergética do Rio de Janeiro.

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