domingo, 18 de maio de 2014

O ENCONTRO ENTRE O TEMPO E A ETERNIDADE


Sede vigilantes para que ninguém
vos engane com as palavras:
«vede aqui» ou «vede acolá»,
pois o Filho do homem está no
mais recôndito de vós. Segui-o!
(O Evangelho de Maria)
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
ESCOLA INTERNACIONAL DA ROSACRUZ AUREA
TRABALHO PUBLICO · CURSO DE INTRODUCAO
MODULO 1 · TEMA 2



Na carta anterior, refletimos sobre a fugacidade da vida e sobre o caráter transitório de tudo o que o ser humano pode experimentar ou possuir, devido à polaridade que caracteriza o mundo em que ele vive. Tudo quanto existe é a manifestação, em maior ou menor escala, de determinada qualidade e de seu contrário.
Luz e trevas, amor e ódio, bem e mal, alegria e tristeza… sucedem-se em um permanente ir e vir, de forma similar ao movimento de um pêndulo.
Essa é uma lei natural que rege a vida; sem dúvida, essa lei, que deveria permitir ao ser humano uma constante evolução, deixando para trás o antigo para elevar-se ao novo, é sentida por ele com grande perturbação e é causa de muito sofrimento. No entanto, no interior de cada ser humano há algo que aspira ao permanente, ao absoluto, ao eterno.
Quanta contradição, não? Como pode um ser humano aspirar a algo permanente em um universo caracterizado por mudanças constantes?
A Escola Internacional da Rosacruz Áurea pede a todos para refletir sobre isso, porque nessa questão se esconde o mistério da transformação da alma. No desenrolar destas cartas se encontra a resposta a essa pergunta.
Em todos os tempos e culturas, a mitologia, por meio de imagens e símbolos, busca explicar como se criou o cosmo e o próprio ser humano.
Um desses relatos provém da mitologia grega e narra as vicissitudes de Prometeu.
Prometeu era imortal, um dos Titãs. Diz-se que ele criou o homem, dando-lhe uma centelha de vida que tirou do carro solar de Apolo. Mas, em dado momento, Prometeu cometeu uma afronta contra os deuses: enganou a Zeus, que, como castigo, o condenou a ser acorrentado ao cume do monte Cáucaso.
Durante o dia uma águia comia seu fígado, mas durante a noite este se regenerava. Prometeu deveria permanecer acorrentado assim até o fim dos tempos, a menos que um ser imortal oferecesse a vida em troca de sua liberdade.
Finalmente, esse intercâmbio se realizou, pois Zeus permitiu que o centauro
Quíron, alquebrado por uma ferida incurável, produzida por seu próprio pupilo, Hércules, entregasse sua vida imortal em troca da liberdade de Prometeu.
Essa bela história, que apenas está apresentada aqui em parte, encerra um mistério maravilhoso que mostra a todos, por um lado, o conflito entre o tempo e a eternidade, e, por outro, a libertação do aspecto imortal, espiritual, do ser humano.
Efetivamente, Prometeu representa o princípio da alma imortal no ser humano, ao qual permanece enredado, pois carece da possibilidade de manifestar-se.
Por outro lado, sua desobediência consistiu no uso de seus poderes criadores de maneira forçada e experimental. Em consequência disso, os deuses se viram obrigados a isolá-lo, para evitar que a desarmonia alterasse a ordem cósmica. O fato de o fígado ser devorado durante o dia e regenerar-se à noite indica que a alma abandonou o caminho de elevação até à luz e submergiu em um processo cíclico de constante nascimento e dissolução.
Assim, esta é a situação em que se encontra a maioria dos seres humanos atualmente:
sua alma imortal permanece latente, como que adormecida, incapaz de expressar-se em uma natureza governada pelos opostos, ou, o que é o mesmo, em um universo limitado pelas restrições do espaço-tempo.
Se a alma imortal for vista como a grande força unificadora do universo, necessariamente deve-se reconhecer que a humanidade não está em sintonia com ela.
As consequências do comportamento de cada pessoa o revelam, pois esse estado de vida se caracteriza por uma contínua luta por poder e riqueza.
Muito provavelmente o leitor desta carta sabe que esta é a condição geral da maioria dos seres humanos, desligados da força da alma imortal que se encontra em seu interior.
O mito de Prometeu, assim como o de Narciso, o de Adão e Eva, o de Ísis e Osíris e tantos outros, fala para a humanidade de um acontecimento conhecido esotericamente como a queda do ser original.
Não obstante, antes de continuar, temos de enfatizar que o ensinamento sobre a queda deve ser considerado com extremo cuidado. É que devemos levar em consideração que a queda ocorreu de forma multidimensional. Além disso, ela abarca campos de manifestação invisíveis, geralmente desconhecidos para o ser humano.
Por isso, o uso distorcido que se tem feito desse ensinamento gerou grande confusão e tem mantido a humanidade em uma espécie de narcose espiritual.
A idéia do «pecado original» e o medo da condenação eterna sempre tem sido um meio de manter a massa humana sob controle, a fim de que ela se sinta dependente de um poder salvador externo. Assim, a Escola da Rosacruz Áurea convida a todos os leitores a não delegar sua responsabilidade a outras mãos que não sejam as suas próprias, pois a liberdade não é um presente, mas sim uma condição interior que deve ser assumida conscientemente.
Na realidade, a chamada «queda», em termos cristãos, a separação entre corpo e alma, ou, dito de outro modo, a separação entre consciência e espírito, não deve ser situada em uma herança passada, mas sim em um acontecimento que se vive dia a dia, segundo a segundo, e pelo qual cada um é totalmente responsável.
Com o que acabamos de dizer, talvez o leitor já tenha intuído que estamos falando sobre dois estados de ser, sobre duas naturezas diferentes:
• uma, que é a natureza original, onde a alma imortal se manifesta em ligação com o Espírito original;
• e outra, denominada dialética (devido à polaridade vivida como oposição e, por conseguinte, como sofrimento), onde o ser humano se debate entre a vida e a morte.
Fazemos votos de que o leitor tenha sentido pelo menos uma vez a presença insondável desse ser adormecido sobre o qual estamos falando - esse princípio espiritual, essa alma imortal que o impulsiona e, de certo modo, o inquieta.
É esse princípio que, definitiva­mente, faz de cada pessoa um buscador.
O fato é que esse ser emite uma vibração, um pedido de socorro que, em certas ocasiões, atua na personalidade natural como uma inquietação ou uma nostalgia que ressoa como um chamado sutil e subconsciente.
Esse ser original decaído, precisamente por sua condição latente, é denominado,  na terminologia da Escola da Rosacruz Áurea, «átomo-centelha-do-espírito» ou «rosa-do­-coração», por encontrar-se no centro de cada ser, na altura do coração.
Seu despertar significa um novo nascimento, em que a consciência exerce um papel determinante, já que nesse processo a consciência se volta de forma receptiva aos impulsos do Espírito original.
Sabemos que todo átomo encerra uma energia poderosa.
A ciência nuclear, desconside­rando as leis naturais,  fissiona o átomo e utiliza-se desse processo violento como fonte de energia, criando uma perturbação no espaço-tempo e nos estratos etéricos do planeta.
Assim também o átomo-centelha-do-espírito possui uma energia poderosíssima, de natureza espiritual, com a qual pode transformar o pequeno mundo que é o ser humano.
Essa energia inviolável repousa no núcleo do santuário do coração e espera para ser posta a serviço do plano original da criação: ela é a misteriosa força cundalini do coração, a força primogênita do amor.
No entanto, assim como acontece com a energia que se encerra nos átomos materiais, convém saber que essa energia nunca pode ser utilizada de maneira forçada, especulativa ou egocêntrica. Quem age dessa forma sofre as mesmas consequências que atingiram Prometeu.
Talvez o leitor possa compreender agora que todo caminho espiritual implica na recuperação da energia criadora que o ser original perdeu em tempos remotos. Contudo, o caminho apenas pode ser percorrido sob determinadas condições. O candidato à iniciação deve mostrar, nesse caminho, grande pureza de coração. Qualquer egocentrismo é inadmissí­vel, pois o eu é o resultado da fragmentação, da ilusória multiplicidade que foi gerada por uma vida separada do Espírito original. Por isso, é preciso que o buscador se questionar sobre o que ele até agora acredita que é, pois provavelmente o verdadeiro eu, o ser interior, ainda está por ser descoberto.
Quando a consciência chega a esse reconhecimento, a chave vibratória do sistema hu­ mano começa a mudar e volta-se receptivamente para o toque do Espírito original.
 A partir desse momento, a consciência começa a reconhecer e a vislumbrar um pouco do verdadeiro sentido da vida, da verdadeira natureza espiritual do ser humano, estimulando-o para a ação.
A final, estado de consciência é estado de vida!
Quando o eu deixa espaço para o “Outro” – para o ser latente  no coração, o átomo-centelha-do-espírito - é restabelecida a ponte que une o tempo e a eternidade!
Nesse devir, o autoconhecimento vai adquirindo progressivamente maior profundidade.
Em realidade, o reconhecimento de que somos portadores da centelha imortal nunca será uma mera crença, mas sim o resultado de múltiplas experiências e também de muitas desilusões, de uma longa aprendizagem que deixa,
finalmente, a marca da certeza.

Atenciosamente,
Seus amigos do Trabalho Público do
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