domingo, 8 de junho de 2014

NOS LABIRINTOS DA MORAL


Nesse livro, os autores Mário Sérgio Cortella, filósofo e Yves de La Taille, professor no Instituto de Psicologia da USP, questionam vários aspectos educacionais, priorizando a ética e a moral.
Esse questionamento é travado em um diálogo muito esclarecedor e envolvente, pois, os autores narram fatos ocorridos em suas vidas de estudantes fazendo reflexões acerca dos valores da vida cotidiana, interligando com a educação, que é desenvolvida hoje nas escolas.
Mário Sérgio, (pág. 10) menciona:
''Nosso estranhamento já é um reflexo do questionamento que estamos vivendo em relação aos valores. Quer dizer, o modelo de organização da vida, o nosso paradigma de existência, começa a ser questionado com bastante força...a temática dos valores aparece mais como queixa do que como convicção. Por vezes, é uma lamúria: “Essa juventude está perdida”. Aliás, alguns dizem “O mundo está perdido”. Costumo brincar dizendo que quem repete muito isso começa a se perder nesse mundo. Afinal, “perde-se” aquele que não compreende o que está acontecendo à sua volta, que não “se localiza”.
Com essa reflexão, ele está se referindo as quebras dos paradigmas que, nos dias atuais, mudam com muito mais rapidez e, as pessoas precisam se habituar com essas mudanças, precisam ser mais flexíveis e atentas.
Yves, (pág. 36), demonstra preocupação em relação as noções éticas, se referindo ao respeito com o outro dizendo:
"E hoje ocorre a volta da preocupação ética, preocupação com a vida boa, mas nem com, nem para o outro – e menos ainda em instituições justas. Em 2004, fiz uma pesquisa em uma escola pública, com adolescentes dos três anos do ensino médio. Inicialmente pedi para que eles escrevessem, quanto quisessem, sobre o que desejariam ser, como gostariam de viver, imaginando-se daqui a dez anos, de maneira ideal. "
Nessa pesquisa, Yves constatou que apenas um terço dos alunos se referiu ao outro como elemento integrante de sua vida no futuro. Com essa reflexão ele está nos alertando dos perigos da modernidade, onde as pessoas cada vez mais se isolam em seu mundo tecnológico, não buscam o convívio com o outro nem para o outro. Fazendo uma comparação com os jovens da década de sessenta, Yves demonstra preocupação, pois, aquele jovem estava preocupado com a sociedade, com o futuro da humanidade.
Em contrapartida, Mário Sérgio, (pág. 37), pensa que os jovens daquela geração não possuíam coragem, quando diz:
"Então, retomando, acho que na década de 1960 nós “renovamos o guarda-roupa”, demolimos uma série de valores, entramos numa rota de normalidade e acabamos perdendo o impulso. Acho que foram utopias complacentes que feneceram. Do ponto de vista da nossa conversa, acho que nos faltaram virtudes, sobretudo a da coragem. Desenvolvemos a amizade, a benevolência apareceu como um valor de natureza mais religiosa, mas nos faltou a coragem"
Os autores continuam nesse debate com relação às mudanças ocorridas nas últimas décadas. Abordam a ditadura militar como uma fase importante que testou a bravura e coragem dos jovens ao se rebelarem e contestarem, mas, ainda assim, tanto Mário Sérgio como Yves, concordam que havia um misto de romantismo envolvendo esses movimentos de bravura.
Ao longo do livro, os autores discutem várias questões éticas filosóficas, principalmente, com relação a sociedade e a educação. Para Yves, (pág. 109):
“No começo do século XX, os grandes edificadores, as pessoas mais importantes da sociedade eram freqüentemente educadores: Freinet, Montessori, Paulo Freire, aqui no Brasil, entre outros. Porém atualmente, a escola está tímida”. Mário Sérgio, concorda e acrescenta que a escola deve cumprir o seu papel, mesmo que, a responsabilidade não seja apenas sua, é tarefa prioritária da escola formar pessoas que valorizem a ética e a moral. Yves, (pág. 110), reafirma:
"Isso, ferramenta para um mundo melhor. Não apenas para a obtenção de um emprego, embora também para isso, evidentemente. A escola é uma instituição organizada por adultos, dirigida por adultos, pensada por adultos. Será que eles estão dispostos? Devem estar. É um dever deles, para eles próprios, aliás."
Finalizando, na mesma página, Mário Sérgio, acrescenta:
"Não podem não estar. Aliás, como estamos fechando a conversa, cito o Apocalipse, que é um bom livro para fechar nosso debate. No Apocalipse há uma frase assustadora que diz: “Deus vomitará os mornos”. O pior castigo no Apocalipse é o vômito de Deus. Logo, “Deus vomitará os mornos”, os que não são quentes nem frios – portanto, os que não têm honra."
As reflexões abordadas nesse livro, nos levam a buscar alternativas para as inúmeras situações com as quais convivemos diariamente, sejam elas nas escolas e, ou em nossa vida cotidiana. É um bate papo despretensioso entre os autores, mas de grande importância, pois, podemos aproveitar em nosso próprio benefício e dos outros.

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