segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Minhas estações

Existem várias maneiras de contar o tempo.
O relógio marca as horas, os minutos, os segundos... os meses marcam as semanas, os dias... os anos marcam os meses... as estações marcam o florir, o ensolarar, o desfolhar, o invernar...
O tempo não passa igual para todos, pois sua contagem é relativa. Um minuto pode durar toda uma vida ou passar tão rápido como um sopro de vida. Tudo depende do que estamos à espera.
Esperar é um ato de coragem quando não sabemos exatamente o que nos aguarda quando chegar o tempo pelo qual ansiamos.
E todo dia, quando acordo, eu me pergunto: o que me espera? Como será hoje? Vou ensolarar ou vou invernar? Vou florescer ou vou desfolhar? E nem eu mesma sei qual a reposta e é bem provável que eu passe por mais de uma estação no decorrer do dia.
Eu tenho minha primavera, meu verão, meu outono e meu inverno particulares. Eu sou feita de estações e cada uma determina meus momentos sem que eu possa interferir nos seus ciclos, pois o que posso, unicamente, é não me permitir estacionar numa delas, sobremaneira naquela que acinzenta meus dias, gela minha alma e escorre pelos meus olhos em forma de chuva...
Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?


Pablo Neruda

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