terça-feira, 3 de setembro de 2013

A IRA DE UM ANJO

Provavelmente você nunca deve ter visto um documentário como este. Eu nunca vi entrevistas reais com vítimas de abusos infantis, por isso considero este documentário único. “Child of Rage (A Ira de Um Anjo)” mostra uma linda e encantadora menininha de olhos azuis chamada Beth Thomas. Mas não se engane, a princesinha de rostinho angelical e voz suave guarda um verdadeiro demônio dentro de si. O documentário exibido na rede HBO em 1992 foi compilado a partir de fitas gravadas do Dr. Ken Magid, um psicólogo clínico especializado no tratamento de crianças severamente abusadas. 
Dr. Ken: “As pessoas tem medo de voce Beth?”
Beth: “Sim.”
Dr. Ken: “Seus pais tem medo de você?”
Beth: “Sim.”
Dr. Ken: “O que você faria com eles?”
Beth: “Esfaquearia.”
Dr. Ken: “O que você faria com seu irmão?”
Beth: “O mataria”
Dr. Ken: “Em quem você gostaria de enfiar alfinetes?”
Beth: “Na mamãe e no papai”
Dr. Ken: “O que você gostaria que acontecessem com eles?”
Beth: “Que eles morressem”
A mãe de Beth morreu quando ela tinha 1 ano de idade e ela e seu irmão Jonathan foram deixados com o pai. O sádico pai abusou sexualmente de Beth durante os 7 meses seguintes até que os filhos foram tirados de suas mãos por assistentes sociais. Para se ter uma idéia, Jonathan que tinha 7 meses, tinha sua cabeça na parte de trás plana, fato ocasionado por ele ficar o tempo inteiro deitado de costas no berço. O casal de irmãos foram adotados por um casal que não podia ter filhos, mas nenhuma informação sobre os abusos foram passados para os pais adotivos.
No novo lar, Beth começou a ter pesadelos sobre um “homem que caia sobre ela e a machucava com uma parte dele.” Os pais adotivos começaram a desconfiar de que algo estava errado. Beth foi pega várias vezes se masturbando. Em uma delas, ela fez sangrar a própria vagina e teve que ser hospitalizada. Beth começou também a torturar os animais de estimação da família. Enfiava agulhas nos animais e quebrou o pescoço de filhotes de pássaros. Ela também torturava o irmão Jonathan, dava agulhadas nele além de espancá-lo. Sua intenção era clara: Ela queria matá-lo. Muitas vezes ela expressou o desejo de matar a família inteira, incluindo seus pais.
No documentário Beth descreve o abuso que sofreu do seu pai biológico da mesma forma como descreve como molestou seu irmão, fria e calma. Talvez, o aspecto mais perturbador do comportamento de Beth seja a completa falta de remorso e preocupação por suas ações. Durante todo o tempo ela estava consciente de que suas ações eram erradas e dolorosas, mas isso simplesmente não importava para ela. Após os vários incidentes com Beth, seus pais adotivos a levaram a um terapeuta que diagnosticou Beth como sendo um caso grave de “Transtorno de Apego Reativo”. O Transtorno de Apego Reativo é caracterizado pelo desenvolvimento de formas perturbadas e inadequadas de estabelecer relacionamentos, geralmente por causa de uma história de maus tratos. A característica principal do Transtorno de Apego Reativo é uma ligação social perturbada e inadequada, com início aos 5 anos de idade e associada ao recebimento de cuidados amplamente patológicos.
A condição de Beth envolve a completa incapacidade de se relacionar com qualquer ser humano e uma completa falta de empatia, características presentes na psicopatia e sociopatia. Entretanto, essa definição (psicopata) não foi dada em Beth pois na época o termo não podia ser utilizado como diagnóstico em pessoas com menos de 18 anos. Na verdade até hoje existe uma grande discussão em torno do diagnóstico de psicopatia em crianças. Existem especialistas que dizem que sim, a psicopatia pode ser diagnosticada em crianças e já a partir dos 3 anos de idade. Já outros são mais reticentes e afirmam que não, uma criança não tem sua personalidade completamente formada, por isso o diagnostico de psicopatia não pode ser dado a crianças.
Psicopata ou não, o comportamento de Beth era tão perverso que em abril de 1989 ela foi tirada de sua casa e internada para tratamento intensivo. Ela foi internada em uma casa especial de tratamento de crianças com transtorno severo de comportamento. No documentário a terapeuta da casa, Connel Watkins, chega a dizer que ela já havia tido sucesso ao tratar de crianças assassinas de apenas 9 anos de idade.
O tratamento imposto a Beth na casa foi bastante rígido e cheio de regras, algo horrível para uma criança como ela que certamente não respeita e não gosta de regras. À noite ela era trancada no quarto para que ela não pudesse sair e ferir outras crianças. Ela deveria pedir permissão para tudo. Desde a ida ao banheiro para fazer xixi até para beber água. Ao longo do tempo estas restrições foram sendo tiradas e o comportamento de Beth parece ter melhorado.
O documentário termina com a aparente recuperação de Beth. Mas não se enganem, eu não engoli totalmente o final do filme. Não estaria a pequena Beth manipulando seus terapeutas? Não teria os próprios terapeutas mascarado o comportamento de Beth? No fim do documentário Beth chora ao escutar uma pergunta sobre abuso. Para mim o seu choro sem lágrimas diz muita coisa. Bom, é a minha impressão.
Quanto a Beth, ela cresceu e formou-se em enfermagem e, aparentemente, vive uma vida normal. Viver uma vida normal, porém, não quer dizer que ela deixou de ter um transtorno antissocial. Não estou dizendo que ela é uma psicopata, mas sabemos que a maioria dos psicopatas não matam. Ao contrário, eles usam a manipulação e o carisma para se dar bem na vida. Eles aprendem a imitar emoções, apesar de sua incapacidade para realmente sentí-los, o que faz com que, aos olhos de outras pessoas, pareçam inocentes e normais. Psicopatas são (frequentemente) educados e possuem empregos estáveis. Alguns são tão bons em manipular, que formam famílias e relacionamentos de longo prazo com outras pessoas, sem que elas suspeitem de absolutamente nada.
Um fato interessante com relação a essa história. Em abril de 2000, Connel Watkins, a terapeuta de Beth, conduziu uma sessão de terapia fatal em uma menina de 10 anos chamada Candance Newmaker. A terapia conhecida como “renascimento” culminou na asfixia de Candance. Connel foi condenada a 16 anos de prisão, cumpriu 7 anos e foi libertada em 2008. Ela foi proibida de trabalhar com crianças. 
Fonte : www.aprendizverde.com.br

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