Voces perceberam como no filme Pleasantville as coisas (e depois pessoas) vão adquirindo cor a medida em que elas saem do "normal", do esperado. É difícil para os personagens (e até nós, espectadores) dizer exatamente porque cada coisa vai ganhando cor, mas em um olhar mais aprofundado vemos que esse "sair do normal" é na verdade uma mudança do olhar ou de uma pessoa ou do conjunto de pessoas em relação a um objeto (como o carro, que é percebido como algo mais do que um transporte, ou as rosas evocando paixão ou luxúria) ou mudança interior da pessoa em relação ao mundo. É interessante notar como justamente os objetos vão primeiro sendo afetados, e só depois as pessoas. As sensações, como o beijo, ou o chiclete sendo usado pra exprimir PERSONALIDADE, vão moldando o caráter dos personagens e trazendo lentamente cor a eles. Daria pra fazer uma dissertação sobre isso e como nos relacionamos mais com as coisas do que com as pessoas, ou seja, como nos exprimimos mais através das coisas do que por nós mesmos, ou como usamos ferramentas para nos definir como ser humano.
A jukebox do filme Pleasantville ganha cor rapidamente. Ela sempre funcionou pra tocar música e distrair os clientes jovens da sorveteria. Mas sua percepção e uso "mudaram". Como, se continuou a tocar música? Porque já não era "apenas" música. Era o Rock n'roll. E o Rock mudou mentes e mundos porque trazia em si uma experiência transformadora, libertadora. A Apple é mestra em transformar um produto em uma experiência. Um Iphone não é só um Iphone, e por mais que a concorrência procure trazer celulares melhores tecnicamente ela não vai conseguir reproduzir essa experiência para quem foi "fisgado" por ela na revolução que foi a transformação do seu aparelho telefônico em computador, e nada mais seria da mesma forma daquele momento em diante. Fazendo um paralelo com o filme, foi nesse momento que a Jukebox ganhou cor.
Hoje vemos várias pessoas em preto-e-branco carregando seus celulares coloridos. Algumas ganharam cor própria através daquela experiência, mas a maioria ainda vive em função daquela experiência. Esse para mim é o maior problema das drogas e o porque sou frontalmente contra: enquanto alguns conseguem usá-la como uma porta para o crescimento de si e dos outros aqui, no mundo - como os Beatles ou mesmo Steve Jobs - a imensa maioria se apequena diante da experiência e foge da realidade que, por mais "irreal" que seja, ainda é o nosso campo de atuação e - por que não? - trabalho.
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