O circuito neural funciona de forma surpreendentemente semelhante ao dispositivo de detecção de vozes encontrado no cérebro humano. “É o primeiro passo para a compreensão de como os cães podem ser tão sintonizados com os sentimentos de seu dono”, diz Attila Andics, neurobiólogo que liderou o estudo.
Os resultados sugerem que a área para detecção de vozes evoluiu pelo menos 100 milhões de anos atrás, a idade do último ancestral comum de humanos e cães. Também oferecem uma nova visão sobre a conexão exclusiva dos seres humanos com os nossos melhores amigos animais, e ajudam a explicar os mecanismos comportamentais e neurais que fizeram desta aliança tão eficaz por dezenas de milhares de anos.
O estudo
Na década de 1990, cientistas canadenses identificaram uma parte do cérebro humano dedicada a reconhecer vozes. A área não processa palavras ou frases; na verdade, ela detecta todas as outras informações contidas em sons. Por exemplo, quem é a pessoa que está falando? Como ela está se sentindo? Ela está sendo sarcástica ou falando sério?Andics e sua equipe queriam ver se os cães tinham uma região análoga em seus cérebros. Para isso, eles tiveram que realizar o aparentemente impossível: fazer com que 11 cães ficassem imóveis dentro de uma máquina de escaneamento do cérebro de 10 minutos a uma hora, o tempo todo ouvindo cerca de 200 barulhos diferentes.
Os cientistas começaram com métodos de treinamento padrão: montes de guloseimas e carinho para mostrar que o cachorro fez o esperado. Mas o que realmente ajudou foi criar uma competição entre os animais.
“Nós colocávamos um cão experiente no scanner, e ele ficava lá quietinho. Então nós trazíamos para a sala um cão menos experiente, e ele ficava com tanta inveja! Ele também queria estar na mesa do scanner como o outro cão”, explica Andics.
Após cerca de 20 sessões de treinamento, os pesquisadores colocaram fones de ouvido em cada cão e os deixaram ouvir três tipos de sons: vozes humanas, vozes caninas e ruídos ambientais, tais como um telefone tocando ou um martelo batendo em um prego.
A equipe, então, analisou quais partes do cérebro dos animais responderam a esses sons. Eles descobriram que, assim como os seres humanos, os cães têm uma região com neurônios que se acendem com mais força quando ouvem vozes de sua própria espécie – outros cães latindo, rosnando ou lamentando.
Houve também uma região que era sensível aos tons emocionais em ambas as vozes humanas e caninas, e essa área fica localizada no mesmo local que é encontrada em pessoas – na parte de trás do cérebro, perto das orelhas.
“Quando você olha como os cães respondem a estímulos emocionais em sons, é muito semelhante à forma como os seres humanos respondem. É na mesma região do cérebro, e é mais forte com vocalizações positivas do que negativas”, afirma Andics.
Isso significa que, como as pessoas, os cães usam parâmetros acústicos simples para deduzir o conteúdo emocional de um som. Por exemplo, quando você ri , o som sai em peças curtas e rápidas (há há há). Mas se esse som ficar mais longo (haaaa, haaaa), começa a soar mais como um choro ou lamento. É nisso que as pessoas – e os cães – prestam atenção.
Mas também foram vistas algumas diferenças no processamento de sons nas duas espécies: em cães, 48% de todas as regiões do cérebro sensíveis ao som responderam mais fortemente a outros barulhos, que não vozes. Nos seres humanos, entretanto, apenas 3% das mesmas regiões do cérebro mostram uma maior resposta a sons não vocais. [NPR, ScienceDaily]
Fonte: HypeScience
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