Estudos clínicos sobre a normalidade e a loucura
abrem com Philippe Pinel a introdução do conceito de enfermidade
aos loucos e aos “diferentes”. Frente a isso, os surdos passaram
à categoria humana, porém, ‘enferma’.
Entendidos como doentes
pela medicina e, mais tarde pela psicologia, foram catalogados pelo
saber médico, o qual conclui que eram uma ‘sub-espécie’, uma
‘anomalia’ que deveria ser erradicada.
A psicologia, seguindo os preceitos científicos
e com base no modelo adotado pela medicina, desenvolveu estudos que
envolveram rigorosa avaliação psicológica, com o propósito de
comprovar a anormalidade das psico funções e das distintas
modalidades perceptuais dos surdos.
Como conseqüência destes
estudos a psicologia constatou que a perda auditiva era a causa de
numerosas condutas anormais no âmbito social, cognitivo,
comportamental e emocional, concluindo que os surdos não se
comportavam como a maioria das pessoas normais, enquadrando-os nos
padrões da patologia.
Deste modo, tal qual a medicina, a psicologia
absorveu o discurso clínico que cataloga e classifica o surdo como
“enfermo” e o incluiu no rol das deficiências, descrevendo-o
como “incapaz”, “impossibilitado”, “defeituoso”,
“anormal”, “inferior”, enfim, resumindo-o a um par de orelhas
não funcionais, além de descrevê-lo como portador de “audição
defeituosa”, “deterioração auditiva” entre outras,
culminando com a designação de “deficiente auditivo”.
Além da definição de “deficiente auditivo”,
o discurso clínico também descreveu o surdo como “surdo-mudo”
ou “mudo”, desconsiderando que o surdo não apresenta nenhum
problema no órgão da fala (só não fala por que não escuta) e que
não é mudo já que fala em língua de sinais.
Este movimento
denuncia o surgimento de uma “psicologia da surdez” que propôs
intervenções a partir de um órgão tido como falho, que
necessitava de reabilitação para “adaptação” ao meio. Esta
identificação com o modelo médico levou a uma intervenção no
corpo, no corpo da ciência, corpo onde a palavra não se inscreve,
corpo sem verbo, sem metáfora, que responde com a procura minuciosa
das causas orgânicas, deixando de lado o aspecto subjetivo,
reforçando as manipulações puramente corporais do surdo,
reduzindo-o a uma “orelha”, tornando-o um corpo máquina que
precisa continuar funcionando a todo custo apesar de possuir uma peça
defeituosa.
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