"A
todo viver corresponde um sofrer " afirmou o
escritor português Eça de Queiros.
O
sofrimento faz parte da condição humana.
Os
sofredores sofrem sozinhos e remoem suas dores em silencio, achando
que não tem sorte, que tudo dá errado, que as coisas
simplesmente não acontecem, que seu destino é sofrer.
Em
consequência, eles tem a autoestima prejudicada. Sentem-se
inseguros, desvalorizados, ansiosos. Sua postura de derrota e
pessimismo muitas vezes os impede de se conectar com sua saúde
psíquica e os distancia do sucesso pessoal e social.
Mas
será que Viver é Sofrer? Sofrer é Viver?
Sofrer
é uma realidade que diz respeito a todos nós. Mas convém lembrar
que o sofrimento transcende a dor física para atingir o plano moral
e espiritual. Por isso, ele é considerado uma característica
humana.
Contudo,
apesar de ser intrínseco ao existir, não significa que deva ser
encarado como uma desgraça sobrevinda para nos tornar
obrigatoriamente infelizes para sempre.
Claro
que o sofrimento é universal e faz parte da vida, mas é muito
importante criar condições para minorar o sofrimento. Importante é
refletir sobre o sofrimento que não necessita fazer parte da nossa
vida cotidiana, sofrimentos que não precisariam ser vividos: um modo
de sofrer provavelmente elaborado de maneira inconsciente e que
constitui a atitude sofrente em relação aos outros e ao mundo.
As
pessoas olham para esse sofrimento como se fosse apenas uma
dificuldade da vida e procuram justificativas para a sua dor, sem
entender que esse padrão de comportamento ou sentimento formata uma
atitude repetitiva causadora de seus desencontros e insucessos.
O
custo desse engano é alto. O sofrimento psicológico causa
isolamento social, depressão, pensamentos obsessivo-compulsivos e
ansiedade disfuncional (gasta-se muita energia para pouco ou nenhum
resultado).
Segundo
Johann Wolfgang von Goethe, escritor alemão disse : NÓS
SOMOS OS NOSSOS PRÓPRIOS DEMÔNIOS. NÓS NOS EXPULSAMOS DO
NOSSO PARAÍSO.
É
importante ressaltar que, frequentemente, as situações conflitivas,
externas ou internas, com as quais nos deparamos ao longo da vida
mobilizam em nós mecanismos defensivos perante a dor. Isso faz parte
do processo natural de sobrevivência. Mas, em função das
adversidades enfrentadas, algumas pessoas ás vezes sofrem mais do
que as outras e aos poucos desenvolvem uma identidade colada no
sofrimento. Elas pensam, sentem e integram as suas dores, não
importa se são traumas do passado ou do presente, como uma postura
existencial.
Sabemos
que a experiencia do ser sofrente é de insuperável solidão,
profundamente impar e intransferível. No entanto, a consciência
desse fato poderá dar ao individuo a condição de desmontar essa
imagem de si para, consequentemente, redefinir a sua individualidade.
É
necessário uma profunda reflexão sobre o processo de construção
dessa identidade sofrente.
Para
entender a construção da identidade colada no sofrimento é preciso
conhecer como ocorre o desenvolvimento biopsicoafetivo e social da
criança e do adolescente, pois estes são períodos importantes na
formação do ser humano. Uma vez conhecido esse processo, fica fácil
perceber o que transcorre de modo diferente no adulto que apresenta
essa personalidade sofrente.
-
Antes mesmo de nascer, normalmente, já existe uma rede social pronta
para recebe-lá. Esse ambiente de felicidade garantem ao bebe
um clima receptivo, fundamental para que venha a sentir-se aceito e
amado.
-
Com o nascimento, os pais passam a contrapor suas expectativas com a
figura real da criança. E começa ai a interação do bebe com a mãe
e a consequente mobilização de uma resposta materna, que servirá
de primeiro modelo relacional para o recém-nascido. Em virtude de
sua imaturidade biopsiquica, não existe critica, apenas absorção e
introjeção de modelos.
Esses
padrões relacionais e suas respostas a eles são assimilados como
naturais e marcam profundamente a vida da criança.
aos
poucos, o novo Ser percebe que nem todos os seus desejos podem ser
satisfeitos.
O
desenvolvimento biopsicoafetivo prossegue durante toda a vida, mas há
um momento em que é possível reviver a primeira matriz da
subjetividade. Isso acontece com o advento da puberdade, quando o
adolescente amplia o seu contexto familiar para o social. Passa a ter
novas experiencias que permitem ao mesmo tempo rever seus modelos de
relações e considerar a possibilidade de experimentar novos
padrões, tudo feito de maneira natural
As
pessoas que são "eternas sofredoras" na verdade
tiveram seu desenvolvimento biopsicoafetivo, tanto na infância
quanto na adolescência, afetados por fatores que impediram seu
acolhimento e, consequentemente, faltou-lhes a expressão de amor tão
necessário para a base emocional.
Essa
situação faz com que a pessoa internalize e construa "Eus
parciais" de desamor para consigo, de submissão, de desejante e
de temeroso. Esses Eus parciais aglutinam-se em um complexo que
norteia a relação consigo e com o mundo, cristalizando uma atitude
repetitiva.
Se
modelo relacional apoia-se na dualidade: se, de um lado, há um Ser
desejoso de amor, do outro, existe um ser que não se permite receber
esse amor. Ele vive aprisionado pela ambiguidade de um “EU” que
deseja ser amado, ter liberdade e viver novas experiencias, porém
impedido pelo outro EU, que teme ser responsável por seu amor.
Com
o passar do tempo, essa divisão acaba gerando pensamentos
repetitivos que alimentam diálogos internos torturantes, e estes,
por sua vez, reforçam os sentimentos de autopiedade, de desamparo,
autovitimização e autodepreciação.
Para
explicar melhor, a afetividade humana constitui-se de algunsm pilares
e é na adolescencia que eles vão sendo desenvolvidos até chegar a
capacidade plena de amar do adulto:
1º
pilar é o Humor, que é o estado emocional basal; no “sofredor”
seu humor é sempre triste.
2º
pilar são os sentimentos, que são estados e configurações
afetivas estáveis associados a conteudos intelectuais; no sofredor o
sentimento é sempre o de menos-valia.
3º
pilar são as emoções, que são reações afetivas agudas
desencadeadas por estímulos e no “sofredor “ a emoção que
prevalece é a angústia.
4º
pilar são as paixões, que denotam um estado afetivo intenso; e esse
pilar, infelizmente, está ausente na composição da afetividade do
“sofredor”.
5º
pilar são os afetos, que dizem respeito ao colorido emocional, e é
óbvio que os afetos no “sofredor” sofrem um intenso embotamento.
E
AGORA, O QUE FAZER?
“Nenhuma vida é tão dificil que não possa se tornar mais fácil pelo modo como for conduzida.” (Ellen Glasgow)
Os pensamentos são
os responsáveis pela origem dos sentimentos e, consequentemente, das
atitudes, dos comportamentos e das reações perante a vida. O
importante é prestar atenção em quando e como os pensamentos
invadem sua mente.
Quando você passa
por alguma situação que te abala muito, verifique quais os
pensamentos automaticos que surgem a partir dela. Pois todos os
nossos sentimentos advém desses pensamentos que são gerados após
alguma cena ou situação que mexem conosco.
Ao identificar as
cenas e situações que nos causam dor, veja qual é o pensamento
automatico que surge a partir dela. Identificado o pensamento, repita
algumas vezes esse pensamento e observe o que sente. Qual é o
sentimento?
A partir desse
sentimento, que reação/comportamento você costuma ter?
Por exemplo :
Situação: Voce
é rejeitada e/ou traida por alguém.
Pensamento
automático: = Ninguem me ama.
Sentimento oriundo
desse pensamento : = Rejeitada
Atitude ou
comportamento decorrente desse sentimento: Afasto-me das pessoas.
Fico mais agressiva. Fico mais prepotente.
Que tal de deixar
outro pensamento surgir em substituição ao pensamento automatico?
Tente trocar o
pensamento automatico “Ninguem me ama” pelo oposto “Todo mundo
me ama”.
Voce poderá ir
tentando varias opções de pensamento até encontrar um pensamento
funcional capaz de trazer alívio e uma sensação de bem estar o
mais próximo possível do real.
Depois aprofunde a
sua compreensão da origem dos seus pensamentos disfuncionais.
Comumente, eles estão vinculados a uma crença. Crenças são
pensamentos enraizados e profundos formados pela aprendizagem e pelos
modelos adquiridos na interação com o mundo e com as pessoas. Elas
são as inverdades vividas pro você como verdade absoluta.
Uma vez identificada
as crenças fundantes de sentimentos e atitudes geradoras de
sofrimento, avalie o que você pode fazer para mudar essas crenças.
Outro exemplo :
Pensamento
automático : Eu errei.
Esse pensamento gera o seguinte sentimento :
Sentimento :
Perplexidade, culpa, vergonha, depressão. Após sentir todos esses
sentimentos negativos sua reação e/ou comportamento é o seguinte:
Comportamento/reação
: Fica explicando milhares de vezes e dando detalhes e sente muita
ansiedade.
Então, a partir da
identificação da sua crença fundante nessa situação, que
é “ Não posso errar,” “Não posso decepcionar” . E
substitua tudo conforme segue:
Troque
o pensamento automatico “Eu errei”
por p.exemplo : O outro teve uma reação exagerada,
viajou na batatinha, afinal só erra quem faz e eu sempre procuro
fazer o meu melhor !
Perceba
então que o sentimento de perplexidade, culpa, vergonha,
depressão são automaticamente substituidos pelo sentimento de
alivio e você se sentirá “ok”
E
aí, seu comportamento ou sua reação será a de agir
naturalmente e sem sofrimento.
“APRENDI
COM AS PRIMAVERAS A ME DEIXAR CORTAR PARA PODER VOLTAR INTEIRA”
(Cecilia Meirelles)
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