segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SOFRER É INEVITÁVEL, MAS SER INFELIZ É OPÇÃO DE CADA UM

"A todo viver corresponde um sofrer " afirmou o escritor português Eça de Queiros.
O sofrimento faz parte da condição humana.
Os sofredores sofrem sozinhos e remoem suas dores em silencio, achando que não tem sorte, que tudo dá errado,  que as coisas simplesmente não acontecem, que seu destino é sofrer.
Em consequência, eles tem a autoestima prejudicada. Sentem-se inseguros, desvalorizados, ansiosos. Sua postura de derrota e pessimismo muitas vezes os impede de se conectar com sua saúde psíquica e os distancia do sucesso pessoal e social.

Mas será que Viver é Sofrer? Sofrer é Viver?
Sofrer é uma realidade que diz respeito a todos nós. Mas convém lembrar que o sofrimento transcende a dor física para atingir o plano moral e espiritual. Por isso, ele é considerado uma característica humana.
Contudo, apesar de ser intrínseco ao existir, não significa que deva ser encarado como uma desgraça sobrevinda para nos tornar obrigatoriamente infelizes para sempre.


Claro que o sofrimento é universal e faz parte da vida, mas é muito importante criar condições para minorar o sofrimento. Importante é refletir sobre o sofrimento que não necessita fazer parte da nossa vida cotidiana, sofrimentos que não precisariam ser vividos: um modo de sofrer provavelmente elaborado de maneira inconsciente e que constitui a atitude sofrente em relação aos outros e ao mundo.
As pessoas  olham para esse sofrimento como se fosse apenas uma dificuldade da vida e procuram justificativas para a sua dor, sem entender que esse padrão de comportamento ou sentimento formata uma atitude repetitiva causadora de seus desencontros e insucessos.
O custo desse engano é alto. O sofrimento psicológico causa isolamento social, depressão, pensamentos obsessivo-compulsivos e ansiedade disfuncional (gasta-se muita energia para pouco ou nenhum resultado).

Segundo Johann Wolfgang von Goethe, escritor alemão disse : NÓS SOMOS OS NOSSOS PRÓPRIOS DEMÔNIOS. NÓS NOS EXPULSAMOS DO NOSSO PARAÍSO. 
É importante ressaltar que, frequentemente, as situações conflitivas, externas ou internas, com as quais nos deparamos ao longo da vida mobilizam em nós mecanismos defensivos perante a dor. Isso faz parte do processo natural de sobrevivência. Mas, em função das adversidades enfrentadas, algumas pessoas ás vezes sofrem mais do que as outras e aos poucos desenvolvem uma identidade colada no sofrimento. Elas pensam, sentem e integram as suas dores, não importa se são traumas do passado ou do presente, como uma postura  existencial. 
Sabemos que a experiencia do ser sofrente é de insuperável solidão, profundamente impar e intransferível. No entanto, a consciência desse fato poderá dar ao individuo a condição de desmontar essa imagem de si para, consequentemente, redefinir a sua individualidade.
É necessário uma profunda reflexão sobre o processo de construção dessa identidade sofrente. 
Para entender a construção da identidade colada no sofrimento é preciso conhecer como ocorre o desenvolvimento biopsicoafetivo e social da criança e do adolescente, pois estes são períodos importantes na formação do ser humano. Uma vez conhecido esse processo, fica fácil perceber o que transcorre de modo diferente no adulto que apresenta essa personalidade sofrente.
- Antes mesmo de nascer, normalmente, já existe uma rede social pronta para recebe-lá. Esse ambiente de  felicidade garantem ao bebe um clima receptivo, fundamental para que venha a sentir-se aceito e amado.
- Com o nascimento, os pais passam a contrapor suas expectativas com a figura real da criança. E começa ai a interação do bebe com a mãe e a consequente mobilização de uma resposta materna, que servirá de primeiro modelo relacional para o recém-nascido. Em virtude de sua imaturidade biopsiquica, não existe critica, apenas absorção e introjeção de modelos.
Esses padrões relacionais e suas respostas a eles são assimilados como naturais e marcam profundamente a vida da criança.
aos poucos, o novo Ser percebe que nem todos os seus desejos podem ser satisfeitos. 
O desenvolvimento biopsicoafetivo prossegue durante toda a vida, mas há um momento em que é possível reviver a primeira matriz da subjetividade. Isso acontece com o advento da puberdade, quando o adolescente amplia o seu contexto familiar para o social. Passa a ter novas experiencias que permitem ao mesmo tempo rever seus modelos de relações e considerar a possibilidade de experimentar  novos padrões, tudo feito de maneira natural
As pessoas  que são "eternas sofredoras" na verdade tiveram seu desenvolvimento biopsicoafetivo, tanto na infância quanto na adolescência,  afetados por fatores que impediram seu acolhimento e, consequentemente, faltou-lhes a expressão de amor tão necessário para a base emocional. 
Essa situação faz com que a pessoa internalize e construa "Eus parciais" de desamor para consigo, de submissão, de desejante e de temeroso. Esses Eus parciais aglutinam-se em um complexo que norteia a relação consigo e com o mundo, cristalizando uma atitude repetitiva.
Se modelo relacional apoia-se na dualidade: se, de um lado, há um Ser desejoso de amor, do outro, existe um ser que não se permite receber esse amor. Ele vive aprisionado pela ambiguidade de um “EU” que deseja ser amado, ter liberdade e viver novas experiencias, porém impedido pelo outro EU, que teme ser responsável por seu amor.
Com o passar do tempo, essa divisão acaba gerando pensamentos repetitivos que alimentam diálogos internos torturantes, e estes, por sua vez, reforçam os sentimentos de autopiedade, de desamparo, autovitimização e autodepreciação.
Para explicar melhor, a afetividade humana constitui-se de algunsm pilares e é na adolescencia que eles vão sendo desenvolvidos até chegar a capacidade plena de amar do adulto:
1º pilar é o Humor, que é o estado emocional basal; no “sofredor” seu humor é sempre triste.
2º pilar são os sentimentos, que são estados e configurações afetivas estáveis associados a conteudos intelectuais; no sofredor o sentimento é sempre o de menos-valia.
3º pilar são as emoções, que são reações afetivas agudas desencadeadas por estímulos e no “sofredor “ a emoção que prevalece é a angústia.
4º pilar são as paixões, que denotam um estado afetivo intenso; e esse pilar, infelizmente, está ausente na composição da afetividade do “sofredor”.
5º pilar são os afetos, que dizem respeito ao colorido emocional, e é óbvio que os afetos no “sofredor” sofrem um intenso embotamento.

E AGORA, O QUE FAZER?

Nenhuma vida é tão dificil que não possa se tornar mais fácil pelo modo como for conduzida.” (Ellen Glasgow)
Os pensamentos são os responsáveis pela origem dos sentimentos e, consequentemente, das atitudes, dos comportamentos e das reações perante a vida. O importante é prestar atenção em quando e como os pensamentos invadem sua mente.
Quando você passa por alguma situação que te abala muito, verifique quais os pensamentos automaticos que surgem a partir dela. Pois todos os nossos sentimentos advém desses pensamentos que são gerados após alguma cena ou situação que mexem conosco.
Ao identificar as cenas e situações que nos causam dor, veja qual é o pensamento automatico que surge a partir dela. Identificado o pensamento, repita algumas vezes esse pensamento e observe o que sente. Qual é o sentimento?
A partir desse sentimento, que reação/comportamento você costuma ter?
Por exemplo :
Situação: Voce é rejeitada e/ou traida por alguém.
Pensamento automático: = Ninguem me ama.
Sentimento oriundo desse pensamento : = Rejeitada
Atitude ou comportamento decorrente desse sentimento: Afasto-me das pessoas. Fico mais agressiva. Fico mais prepotente.
Que tal de deixar outro pensamento surgir em substituição ao pensamento automatico?
Tente trocar o pensamento automatico “Ninguem me ama” pelo oposto “Todo mundo me ama”.
Voce poderá ir tentando varias opções de pensamento até encontrar um pensamento funcional capaz de trazer alívio e uma sensação de bem estar o mais próximo possível do real.
Depois aprofunde a sua compreensão da origem dos seus pensamentos disfuncionais. Comumente, eles estão vinculados a uma crença. Crenças são pensamentos enraizados e profundos formados pela aprendizagem e pelos modelos adquiridos na interação com o mundo e com as pessoas. Elas são as inverdades vividas pro você como verdade absoluta.
Uma vez identificada as crenças fundantes de sentimentos e atitudes geradoras de sofrimento, avalie o que você pode fazer para mudar essas crenças.
Outro exemplo :
Pensamento automático : Eu errei. Esse pensamento gera o seguinte sentimento :
Sentimento : Perplexidade, culpa, vergonha, depressão. Após sentir todos esses sentimentos negativos sua reação e/ou comportamento é o seguinte:
Comportamento/reação : Fica explicando milhares de vezes e dando detalhes e sente muita ansiedade.
Então, a partir da identificação da sua crença fundante nessa situação, que é “ Não posso errar,” “Não posso decepcionar” . E substitua tudo conforme segue:
Troque o pensamento automatico “Eu errei por p.exemplo : O outro teve uma reação exagerada, viajou na batatinha, afinal só erra quem faz e eu sempre procuro fazer o meu melhor !
Perceba então que o sentimento de perplexidade, culpa, vergonha, depressão são automaticamente substituidos pelo sentimento de alivio e você se sentirá “ok”
E aí, seu comportamento ou sua reação será a de agir naturalmente e sem sofrimento.

APRENDI COM AS PRIMAVERAS A ME DEIXAR CORTAR PARA PODER VOLTAR INTEIRA” (Cecilia Meirelles)

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