Eu recebendo o certificado de conclusão do curso de Libras das mãos da minha querida mestre Milena Bonon |
A sala a mim destinada na sede da APADA |
Eu fiz um curso de Libras maravilhoso, mas, sem dúvida, minha maior lição foi trabalhar diretamente com os DA que de deficientes não tem nada. Na verdade, na maioria das vezes, eu percebia que as limitações para comunicação eram minhas...
PSICANALISE NÃO VERBAL
Esse trabalho discute a problemática dos surdos
pelo fato que estes se encontram em uma comunidade onde a comunicação
é através de sinais.
Frente a essa realidade temos como objetivo
investigar como nesses surdos é realizado os processos inconsciente
e como deve ser realizado o trabalho de escuta sobre o que os surdos
tem a dizer sobre si mesmo.
Escutar o surdo rompe com o modelo de intervenção,
o qual é calcado na matriz do conhecimento médico/científico, de
abordagem terapêutica, e onde há o predomínio do discurso do
especialista, que avalia o “desvio” e a “incapacidade” como
verdades absolutas, atuando sobre a reabilitação do órgão falho –
no caso o ouvido - transformando o sujeito surdo, num pedaço de
carne, que necessita ser habilitado. Entendemos que o posicionamento
médico/científico mostrou-se “surdo” às questões da
constituição psíquica do sujeito surdo, negando-lhes o processo de
humanização, que só é possível no momento em que ocorre o
convívio humano e a participação, que levam ao mundo dos símbolos,
pela aquisição da linguagem. Dessa forma, houve um movimento de
afastamento dos surdos, de sua comunidade, de sua língua e sua
cultura, movimento este que, através das tentativas de adaptação
propostas pelos discursos médicos, psicológicos, econômicos,
políticos e religiosos visavam que os mesmos falassem, minimizando
as diferenças e aplacando o mal-estar, que as condições dos surdos
provoca.
Então, a escuta psicanalítica tomou o rumo da
contramão desses discursos, buscando uma proximidade com a sua
língua e sua cultura, onde foi possível constatar que os surdos
adultos, que nasceram surdos e que tiveram contato tardiamente com a
língua de sinais, possuíam uma forma particular de lidar com o
simbólico, com a cultura familiar, com regras estabelecidas e com
valores instituídos. Também, houve a percepção de que a
compreensão sobre os assuntos abordados circulava em uma dimensão
mais concreta, mais centrada no corpo, menos metaforizada, onde
diversos temas eram concebidos “ao pé da letra”.
As questões acerca do surdo e da surdez foram
abordadas pelo referencial da psicanálise e de outros campos como a
lingüística, a antropologia, a sociologia.
Após esta análise,
constata-se que há muito que se construir na interlocução entre o
contexto da realidade dos surdos e a psicanálise.
Para trabalhar estas questões, foi necessária a
compreensão histórica, na qual verifica-se o percurso trilhado em
busca do entendimento da surdez, por parte da ciência médica e
psicológica, ao longo dos tempos e pela história da comunidade
surda. Após, a pesquisa apresenta a questão da linguagem, enfocando
a Língua de sinais, entendida como uma língua inserida na
linguagem, imersa no simbólico, própria dos sujeitos surdos. Estes
enfoques darão subsídios para se abordar os efeitos, que a
diferença lingüística/cultural tem sobre as relações, o processo
identifica tório e o lugar da família e da comunidade surda no
processo de subjetivação do sujeito surdo e sua relação com a
metáfora paterna.
Diante do exposto, a pesquisa busca situar e
investigar como o surdo, filho de pais ouvintes, internaliza a
cultura familiar e de que maneira essa internalização colabora para
a formação de sua subjetividade. E ainda, levantar como ocorre a
transmissão da herança cultural, ou, mais exatamente, a transmissão
simbólica , entre as gerações, assim como também os valores,
costumes e ideais dos sujeitos surdos. Assim, será possível, tanto
a compreensão da constituição do sujeito surdo quanto de sua
subjetividade.
Poderá ser a oportunidade de resgatar um processo
histórico, equivocado, em relação à comunidade surda. Realizar
este estudo sob o olhar da psicanálise é pertinente, pois o mesmo
quebra com o discurso médico-psicológico predominante e propõe um
“novo olhar”, sobre a constituição dos sujeitos surdos. Além
disso, possibilita fazer um laço social que certamente contribuirá
para com o meio acadêmico e instituições psicanalíticas.
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