quinta-feira, 1 de agosto de 2013

PSICANALISE NÃO VERBAL/1

Eu recebendo o certificado de conclusão
do curso de Libras das mãos da minha
querida mestre Milena Bonon
A sala a mim destinada na sede da APADA
Finalmente depois de longos 7 anos eu conclui meu curso e psicanalise e a partir de hoje passarei a publicar minha monografia a qual resultou de um trabalho junto dos Deficientes Auditivos da APADA de Mogi Guaçu. 
Eu fiz um curso de Libras maravilhoso, mas, sem dúvida, minha maior lição foi trabalhar diretamente com os DA que de deficientes não tem nada. Na verdade, na maioria das vezes, eu percebia que as limitações para comunicação eram minhas...



PSICANALISE NÃO VERBAL
Esse trabalho discute a problemática dos surdos pelo fato que estes se encontram em uma comunidade onde a comunicação é através de sinais. 
Frente a essa realidade temos como objetivo investigar como nesses surdos é realizado os processos inconsciente e como deve ser realizado o trabalho de escuta sobre o que os surdos tem a dizer sobre si mesmo.
Escutar o surdo rompe com o modelo de intervenção, o qual é calcado na matriz do conhecimento médico/científico, de abordagem terapêutica, e onde há o predomínio do discurso do especialista, que avalia o “desvio” e a “incapacidade” como verdades absolutas, atuando sobre a reabilitação do órgão falho – no caso o ouvido - transformando o sujeito surdo, num pedaço de carne, que necessita ser habilitado. Entendemos que o posicionamento médico/científico mostrou-se “surdo” às questões da constituição psíquica do sujeito surdo, negando-lhes o processo de humanização, que só é possível no momento em que ocorre o convívio humano e a participação, que levam ao mundo dos símbolos, pela aquisição da linguagem. Dessa forma, houve um movimento de afastamento dos surdos, de sua comunidade, de sua língua e sua cultura, movimento este que, através das tentativas de adaptação propostas pelos discursos médicos, psicológicos, econômicos, políticos e religiosos visavam que os mesmos falassem, minimizando as diferenças e aplacando o mal-estar, que as condições dos surdos provoca.

Então, a escuta psicanalítica tomou o rumo da contramão desses discursos, buscando uma proximidade com a sua língua e sua cultura, onde foi possível constatar que os surdos adultos, que nasceram surdos e que tiveram contato tardiamente com a língua de sinais, possuíam uma forma particular de lidar com o simbólico, com a cultura familiar, com regras estabelecidas e com valores instituídos. Também, houve a percepção de que a compreensão sobre os assuntos abordados circulava em uma dimensão mais concreta, mais centrada no corpo, menos metaforizada, onde diversos temas eram concebidos “ao pé da letra”.  
As questões acerca do surdo e da surdez foram abordadas pelo referencial da psicanálise e de outros campos como a lingüística, a antropologia, a sociologia. 
Após esta análise, constata-se que há muito que se construir na interlocução entre o contexto da realidade dos surdos e a psicanálise.
Para trabalhar estas questões, foi necessária a compreensão histórica, na qual verifica-se o percurso trilhado em busca do entendimento da surdez, por parte da ciência médica e psicológica, ao longo dos tempos e pela história da comunidade surda. Após, a pesquisa apresenta a questão da linguagem, enfocando a Língua de sinais, entendida como uma língua inserida na linguagem, imersa no simbólico, própria dos sujeitos surdos. Estes enfoques darão subsídios para se abordar os efeitos, que a diferença lingüística/cultural tem sobre as relações, o processo identifica tório e o lugar da família e da comunidade surda no processo de subjetivação do sujeito surdo e sua relação com a metáfora paterna.
Diante do exposto, a pesquisa busca situar e investigar como o surdo, filho de pais ouvintes, internaliza a cultura familiar e de que maneira essa internalização colabora para a formação de sua subjetividade. E ainda, levantar como ocorre a transmissão da herança cultural, ou, mais exatamente, a transmissão simbólica , entre as gerações, assim como também os valores, costumes e ideais dos sujeitos surdos. Assim, será possível, tanto a compreensão da constituição do sujeito surdo quanto de sua subjetividade.
Poderá ser a oportunidade de resgatar um processo histórico, equivocado, em relação à comunidade surda. Realizar este estudo sob o olhar da psicanálise é pertinente, pois o mesmo quebra com o discurso médico-psicológico predominante e propõe um “novo olhar”, sobre a constituição dos sujeitos surdos. Além disso, possibilita fazer um laço social que certamente contribuirá para com o meio acadêmico e instituições psicanalíticas.

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